sexta-feira, agosto 20, 2010

Alpargatas azuis...

Minha professora da primeira série me escolheu para falar uma poesia no dia do soldado na frente de toda a escola!...Eu tinha então 7 anos de idade, muita timidez, alguns medos e apenas 1 par de sapatos, que minha mãe guardava para as "ocasiões especiais". E esta com certeza era para mim uma ocasião especialíssima! 
Faltavam alguns dias para a apresentação e minha ansiedade quase não me deixava dormir pensando na poesia e claro, nos sapatos que minha mãe insistia em me entregar apenas no dia do evento, "você já viu os sapatos, não precisa ficar olhando sempre, acaba deixando por aí e estragando!", como assim?!...se eram os únicos que eu tinha!!! perder???estragar por que??? eu me perguntava sob o olhar estranho que meu pai lançou para mim e minha mãe.
Meu pai era mecânico de automóveis, trabalhava duro para sustentar a família. Eu e minha irmã ganhávamos muitas roupas de minhas primas mais velhas, mas sapatos, que sorte! elas calçavam números diferentes dos meus e não era possível reformá-los como as roupas. Por conta disso, eu tinha duas sandalinhas para ir à escola e este par de sapatos, que eu  havia  visto no dia de Natal, presente de Papai Noel, quando fomos à missa do galo, uma missa que sempre me dava sono, mas não ousava dormir, medo dos beliscões de minha mãe...ah, e também os calcei na minha primeira comunhão, outro episódio que ainda terá um destaque por aqui...
Lembro-me da alegria e do orgulho que sentia na véspera da apresentação, quando falei a poesia inteira decorada para a professora e recebi um elogio acompanhado da recomendação de ir bem vestida, pois uma autoridade não sei de onde estaria lá para assistir, nossa!!!!quanta responsabilidade!
O banho que tomei naquele dia não foi mais demorado porque me lembrei que finalmente eu reveria meu presente de Natal, aquela preciosidade que em poucos minutos estariam vestindo meus pés ansiosos por algo diferente de um par de sandálias.
Calcei as meias com pressa e quando minha mãe me deu a caixa, meu coração parecia até bater mais forte, eu me sentia uma princesa sendo preparada para sua coroação, sei lá!!
Ao tocar naqueles sapatinhos brancos, uma sensação boa me invadiu, acho que meu rosto queimava de felicidade...felicidade esta que começou a diminuir na primeira tentativa de encaixar aquele objeto no meu pé..."seu pé cresceu rápido! e o couro do sapato ainda não cedeu!", exclamou minha mãe tentando forçar a entrada do sapatinho naquele que já não podia ser chamado de "meu pezinho".Andei então pela casa inteira com aqueles calçados apertadíssimos"para acostumar" e minha mãe dizendo que eu iria com eles de qualquer maneira, os dedos parecendo querer explodir ali dentro, o relógio dizendo a hora de ir, minha mãe já meio furiosa com as minhas lágrimas. Por um segundo ela sumiu e apareceu novamente  com uma tesoura grande que usava em suas costuras.Desajeitadamente, sentou-me na beira da mesa grande que ficava na cozinha e com uma expressão decidida que nem meu pai contestaria, tomou de assalto o par de vilões e sem piedade, cortou-lhes as duas pontas...."pronto!" dizia ela, enquanto me enfiava de novo aquele estranho par de calçados que agora deixavam à mostra meus dedos cobertos pelas meias, os mesmos sapatos brancos que até então eram guardados a sete chaves, para que nada de ruim pudesse atingí-los...
Claro que reclamei na hora! a decepção, meus medos e a minha timidez gritavam por mim, eu não queria ir à escola com aqueles sapatos cortados, não naquele dia!! ninguém ouviria o que eu tinha a dizer, aquela poesia tão carinhosamente decorada, mas olhariam sim para os meus pés!!eles seriam a atração!!..." é isto ou o chinelo!!!" vociferou nervosa minha mãe e eu sabia que ela estava também decepcionada por proteger tanto uma coisa que acabaria assim...sem uso....
A hora era de ir para a escola, não de lamentar...eu tinha um compromisso, apesar de já estar até pensando em ter uma febre, uma dor de barriga, ou sei lá o que para não ter que encarar a tal inspetora me olhando com meio sapato.
Caminhei para o portão da casa sentindo lágrimas molharem meu rosto, em silêncio! não adiantava reclamar ou argumentar, era o sapato assim ou a minha velha sandália.
Meu pai fechou o portão por trás de mim , tomou- me a mão, o macacão sujo de graxa , levando-me em silêncio, como se respeitando minha desventura...aquele caminhar para a escola nunca foi tão doloroso.Os pés que, mesmo com meios sapatos, ainda doíam e a minha tristeza por toda aquela esquisitice....
Espantei-me quando meu pai saindo do caminho que levava à escola, seguiu me levando até uma loja e me comprou um par de alpargatas fiado, azuis da cor da saia do meu uniforme e novinhas!!!! meu Deus, como eram lindas!!!! e como eu me senti feliz, quase voava de tanta alegria!!!...meu pai era sim um herói!!!
A festa foi linda, eu e meu belo par de alpargatas novas fizemos bonito na frente de todos e na volta pra casa eu decidi que não iria mais à aula sem elas...
Minha mãe fez um discurso contra, meu pai coitado foi xingado durante dias, ela era fogo quando se sentia contrariada, mas sei que no fundo gostou da atitude do velho, pois acabou permitindo que eu mesma cuidasse daquele lindo par de alpargatas azuis, mesmo recomendando por dias que eu tomasse cuidado, pois ainda não estavam pagas.Ahhhhh!! e eu cuidei....sabe que até hoje eu amo usar alpargatas? inclusive tenho um par que uso sempre para sair por aí, quando quero andar relaxada...lembrando o quanto é maravilhoso ser simples...

sexta-feira, agosto 06, 2010

Vovó e o caminhãozinho...

Minhas tardes (de segunda a sexta feira) são preenchidas com a presença do meu neto Miguel, que com certeza, independente de toda a mão de obra que isto me acarreta, tem um balanço positivo: estar com ele  é um contínuo exercício de  paciência, além de manter sempre viva a chama do "ser criança", o que acho imprescindível tanto para mim quanto para ele, com quem passo do "imitar coelho", até o "virar a bruxa doida do centro oeste", reestabelecendo em mim uma sanidade colorida de criancices.E ainda de quebra mato a saudade de quando fazia minhas caras e bocas no teatro.Noooossa!!é muito bom!
Embora às vezes isto me faça pagar alguns "miquinhos".Como ,por exemplo, no dia em que fomos com a minha filha ao médico.
A sala de espera da gastroenterologista estava lotada quando chegamos eu, Miguel ao colo para não perder tempo e Ananda que (ahhhhh, adolescência!!) se mantinha de cara amarrada por ter sido levada a estar ali em consequência da suposta gastrite que a atingira.Cedi então o último assento que restava, ela sentia dores e Miguel não ficaria mesmo sentado, já que tantas coisas e pessoas ali o convidavam a uma detalhada "inspeção".
Vovó! que é isso?...vovó! ali tem torneira! vovó, olha o menino com dodói!!vem, vovó, vem ver o caminhãozinho!!!!
Neste momento ele já estava em frente a uma enorme janela no quinto andar, ainda bem que com grades!!... e seu olhar parecia extasiado com vários caminhões de terra que trabalhavam numa construção ao lado do hospital. Sem perceber, sentei-me no chão ao lado dele e comecei uma viagem que, iniciada com barulhos de caminhão feitos com a boca, foi até às mais esquisitas expressões corporais e faciais que minha "flexibilidade" podia então exibir ...até que uma voz me tirou do "transe", era Ananda pedindo um documento que estava em minha bolsa. Só aí percebi que as pessoas nos olhavam, estávamos no chão sentados, avó e neto!!...e sob o olhar de "ai, que mico!" de minha adolescente filha! Apenas ao me levantar  pude perceber que a porta atrás de nós dava para a psiquiatria...e aí foi impossível segurar a risada.Risada esta que Miguel , com certeza imaginando ser tudo ainda parte da brincadeira, acompanhou com uma gargalhada que chegou a ser emocionante.
Na altura em que estou da minha vida, vez em quando me pego preocupada com o que é ridículo ou o que pode ser loucura. Por outro lado, em situações como esta, penso que ridículo e insano seria se eu não tivesse embarcado neste trem...ou neste caminhãozinho...



quarta-feira, agosto 04, 2010

De quando minha mãe se foi...

O elevador parecia mais lento que nunca e meu medo, ampliado pela circunstância, trazia à minha mente todo tipo de pensamento sombrio, enquanto olhava a maca vazia à minha frente.Como aquele enfermeiro ainda conseguia trazer no rosto aquele sorriso? pensei, enquanto a campainha acusava o andar onde eu deveria chegar.Confusa, então, já não conseguia captar em mim qualquer emoção, era como se meu "eu" tivesse sido desprogramado, sei lá, fui andando ali feito robô, perguntando e ouvindo respostas mecânicas, sabonete, avental, uma sala com camas e gente sofrida... e lá estava ela. Viajei 15 horas para vê-la assim...o olhar sem brilho, pequenina ali entre os lençóis azuis, ela parecia ainda menor do que era antes, tão frágil, aquela figura sentada ao pé da cama, meias nos pés, tive medo de ao abraçá-la, quebrar, como se de louça  fosse...E entre o tilintar de instrumentos, sussurros e breves sorrisos, as pessoas iam e vinham, medindo pressão, controlando soros, descartando seringas, eu conversava com ela, afagando-lhe a alma através de seus ralos cabelos brancos...seu sorriso mostrou alegria ao me ver.
Cenas de minha infância iam e vinham em minha memória, eu não sabia ainda o que dizer a ela e assim a abracei, com medo de invadir, ofender tanta fragilidade naquele corpo que era agora o oposto daquele que morava em minhas lembranças. No ir e vir de Natais e aniversários, num túnel do tempo de nossas vidas tocou-me a imagem de minha mãe abraçando seus netos, minha mãe sempre presente em minha história... mesmo quando era dura, nunca deixou de ser mãe.Vi naquele exato e justo momento o quanto a amava, o quanto ela me amou também.
Visita de hospital, eu sabia...soube muito antes...era a última vez que nos falaríamos neste plano!
Aquele frágil e doce olhar dizia tudo, porque as palavras não cabiam, não bastavam.
Na cabeceira da cama, dois anjos calmamente esperavam  a hora certa.
Quando me despedi vi o "adeus" nos olhos dela e no elevador aquela imagem estava viva e forte, como ainda hoje viva e forte  está...no meu mundo e no meu coração.
Hoje penso que minha mãe apenas me esperava chegar ali para partir. Não posso contar ao certo o quanto ela me é ainda presente e importante, nem o quanto é impossível descrever a saudade...a doce saudade de ser filha...



terça-feira, agosto 03, 2010

MAS LOGO ELE?! ELE NÃO PEGA NINGUÉM...

          O tédio e o calor daquele domingo me convenceram a ir  tomar cerveja com uma amiga, antes do show da Rita Lee, que seria à noite, na Esplanada."Ótimo!", disse ela, pois aproveitaríamos para bater um papo, colocar as conversas em dia.Lembrei-me então de um grande amigo que, apesar da idade mais jovem (eu o conheci através da Aisha, minha filha), era  fã da Rita e sempre que se juntava a nós era gargalhada garantida.Ríamos de tudo, saudade daquele tempinho!
Liguei para ele então, feliz com a festa visual que se refletia no lago, as cervejas e minha amiga Laura cantarolando "Saúde" num desafinado até perdoável, já que tudo era alegria.
"Alô! por favor, o Gustavo está?"- disse eu com um ar já meio assim, digamos...alegre imaginando ser o próprio no outro lado...
"Ele não está,mas....- era o irmão dele, que logo se encheu de graça ao ouvir uma voz feminina - ...é só com ele mesmo? - tudo bem com você, gata? que voz linda você tem! como pode a dona de uma voz assim, tão meiga e linda ligar num domingo maravilhoso desses prá falar com o meu irmãozinho?!!eu lhe conheço, linda?
Eu não pude resistir, resolvi dar corda ...Gustavo sempre falava de como era "galinha" esse irmão.Fazendo-me de boba e com a voz bem suave, investi na brincadeira:
"Bem... desculpe...eu sou amiga dele, e acho que você já me conhece..."
"Sério?! melhor ainda, meu amor...porque assim você sabe que não sairá perdendo se aceitar sair comigo..."
Com um irmão desses nem se precisa de inimigos...rsrs...pensei, já me divertindo.
"Mas ele é meu amigo e eu só queria mesmo bater papo...que pena..."
"Mas pode falar comigo...prá começar, me diga: de onde nos conhecemos?...alguém com esta voz linda eu não esqueceria..."
Já quase gargalhando, continuei a brincadeirinha...
"Mas eu sei que você se chama Júlio, sei como você é...e olhe.... acho que você não vai gostar muito de saber quem eu sou..."
"Ahhhhh, gatinha! como não?! eu consigo sentir quando uma gata vale a pena e você com certeza me encantou só pela voz...quanto ao Gustavo, esqueça! aquele ali não pega ninguém..."
"Mas eu e ele somos só amigos, grandes amigos....e...
"Viu?" - ele disse, interrompendo: " eu disse que ele não pega ninguém....mas, esqueça o meu irmão e diga logo, menina! de onde você me conhece?"
"Bem...olhe...Por favor, diga ao Gustavo que a Olívia, mãe da Aisha ligou!" - ele,que já estava pronto para buscar a "gata" em qualquer lugar, mudou como nunca vi ninguém mudar e muito menos tão rápido:
"O que??? quem????Aisha??? mãe????...a senhora...sim, pode deixar!" -  falava ele tropeçando nas palavras e pigarreando sem graça. Agora eu era uma senhora, afinal! haha!!
Desliguei o telefone rindo e imaginando, coitado, a cara do pobre Júlio que, ao contar mais tarde o fato ao irmão"que não pegava ninguém", foi com certeza muito "zoado".




sexta-feira, abril 16, 2010

Pausa...

O café exalava um vapor com seu cheiro delicioso, misturado ao leite, nada melhor  para me acordar de manhã.Dei uma olhada rápida na internet, nem me sentei, preferi a janela me entregando um sol tão vivo que, vibrante, depois de tantas chuvas, iluminava minha sala como bênção ... lá embaixo já havia meninos, meninas, bolas, carros, bicicletas, vozes e risos...abri a vidraça e fiquei ali, pensando no quanto a vida é maravilhosa e cheia de reviravoltas.Meu Deus, eu tinha tanta coisa para providenciar ainda antes das 12 horas,mas ainda não!aquele céu me segurou ali debruçada, a xícara já vazia, a gente deixa as coisas irem embora...os momentos...e zás!!quando nos damos conta, este passar de horas que alguém chamou de tempo já nos deu outra rasteira!...e assim, pensando que os tapetes do banheiro e da sala poderiam esperar, saboreei aquele instante, imaginando para onde iria aquele beija flor que acabara de bebericar a água doce numa janela vizinha, teria ele me visto e adiantado sua saída? é que a gente sempre assusta os danadinhos,por mais sutis que tentamos ser! e aquela roseira tão triste e seca, será que o zelador não tem um tempo para cuidar da planta?quando descer, vou falar com ele, sei lá...eu não sou muito boa com o cuidar de roseiras, adoro jardins, mas roseiras eu não sei como podar, apenas sei que rosas são lindas! e que todas as flores ficam maravilhosas depois de uma boa chuva...ei, o que aquele gato danadinho quer  fazer, morrer na frente do carro? olhe que o motorista eu conheço,e ele não gosta de felinos!já o vi olhando para os meus com um olhar que eu sei ler, apesar de sempre nas reuniões de condomínio ele dizer como são adoráveis meus bichinhos!!tá bom ,eu acredito!e este vento gostoso que farfalha as folhas e faz a alegria daqueles meninos com suas pipas...o fim delas é próximo, sempre acabam emaranhadas em algum poste ou por cima de algum prédio, mas o prazer de empinar fala mais alto...acredita que a primeira pipa que empinei foi aos 49 anos num parque em Brasíla, com um amigo gay?...e foi uma delícia, o céu azul, minha cabeça cheia de luzes,os olhos naquele papel colorido voador ao sabor do vento!uma viagem, naquele momento eu voltei a ser criança...tempo maluco, pode passar!!mas nunca roubará minhas lembranças!!
E ali,já de pé em frente à cama arrumada e limpa, um suspiro me traz à realidade.Ainda há, sim muita coisa para fazer até o meio dia...mas...e daí? há pipas,crianças, gatos e passarinhos até mesmo motoristas mal humorados lá fora...e eu parei, parei para vê-los! e este gesto,embora pareça sem grande relevância para alguns, me fez feliz...calmamente feliz...

terça-feira, março 23, 2010

Por água abaixo...

                                Ele usava uma camiseta branca com a cara do Gandhi e eu não pude deixar de olhar.O chinelo e a bermuda pareciam "querer"torná-lo mais jovem do que seus cabelos e rugas mostravam.O "fenômeno" que chamamos de tempo se encarrega de nos delatar a idade, e usando nossas próprias mãos!!
Mas ele não parecia se preocupar com isto, distraído, lendo algo em seu celular,uma mensagem, talvez!e isto me dava uma certa vantagem, eu podia observar "de perto" com mais calma aquela figura interessante...
Ei, eu não sou de ficar paquerando ninguém pela rua, não!pelo contrário, às vezes eu penso que poderia até ser um pouco mais ousada. Afinal, não devo nada a ninguém...mas e a bendita coragem?! sumiu por trás da minha cara vermelha feito fogo, quando num movimento brusco,ele guardou o celular no bolso, olhando na minha direção.Caramba! ele até que era bonitão! os cabelos crespos mas bem cuidados tinham mechas brancas misturadas àquele castanho que combinavam com a cor dos olhos...que eu já não via, tentando encontrar "algo" na bolsa, para não me trair! onde foi parar meu MP3, droga!!...onde eu deixei?
Onde eu deixei? esta pergunta entrou no meu cérebro, fazendo todo o meu trajeto desde antes de sair de casa: troquei a roupa, calcei a sandália, os cabelos eu arrumei diante do espelho, escovei os dentes, desliguei a máquina...nããão!!! a máquina!!!
"Tem horas? tentei ver no meu celular, mas a bateria descarregou"...responde, idiota!!!esquece a máquina de lavar!!!era só o que eu conseguia pensar, enquanto olhava para o relógio no meu pulso, desajeitada ainda  com a mão dentro da bolsa, a cara de palerma...nem ouvi minha voz dizer 9 horas...
E ele dizendo que estava atrasado, que não morava em Brasília e precisava chegar a um shopping naquele horário, encontrar sei lá quem...mas e a máquina?
Minha antiga máquina de lavar era temperamental...lavava muito bem, mas na hora de torcer a roupa...o mundo parecia em guerra,certa vez minha vizinha reclamou do barulho, pois eu a havia ligado depois das 22 horas...e às vezes, ela resolvia encher sem parar, até a água transbordar transatlanticamente a minha cozinha, descendo para o terceiro andar...
Ele nem podia sequer imaginar o que rolava no meu cérebro louco, enquanto tentava descobrir que ônibus chegaria mais rápido no lugar onde ele precisava estar.
Era o mesmo ônibus que eu pegaria...aliás,se não fosse a maldita lavadora,poderíamos descer no mesmo ponto, a companhia poderia ser até interessante...ele diria de onde era, com sorte não seria casado e me convidaria para uma cervejinha....e eu o levaria a um bar onde pudéssemos conversar, nos conhecer.Falei em amizade...
Meu Deus!! eu devo ter ficado maluca de vez!! grandes chances de gente nova em minha vida e eu só conseguia me "ver" com as pernas da calça arregaçadas até o joelho, rodo na mão, a água inundando a portaria do prédio, os vizinhos querendo me esganar!! ah, não!!!!
- É este?- perguntava ele, o ônibus já estava ali, parado, sem que eu percebesse sua chegada.
Com a cara roxa de vergonha e acho até que gaguejei, respondi que sim...ele me agradeceu com um largo sorriso, entrou no ônibus e se foi...ainda me acenou lá de dentro!!!!!
Inúmeras qualidades eu atribuía a mim mesma enquanto fazia o caminho de volta para minha casa,sentindo uma pontadinha de frustração, misturada à ansiedade de chegar logo e conferir os possíveis estragos.
E enquanto pendurava a roupa lavada no varal, porque a máquina desta vez funcionou divina e debochadamente, eu continuava a me autodenominar de vários nomes...
                             E a boa notícia?...comprei uma lavadora nova...

terça-feira, março 16, 2010

"Si tengo las manos sucias, el viento las limpiará!"

                           Certas coisas a gente nunca esquece,mesmo que o tempo tente apagar.Eu tinha 8 anos quando morreu meio tio Toninho.
                            O mais novo dos seis irmãos de minha mãe era rebelde! eu cresci ouvindo histórias de como meus avós tentavam domar  tanta ânsia de ser livre, que o levava muitas vezes a cometer erros naquele tempo imperdoáveis, principalmente se praticados por pessoas de origem humilde, sem o que  minha mãe costumava chamar de "costas largas". Eu nunca entendi muito bem o  verdadeiro significado desta expressão,mas a julgar pelas situações em que se metia meu tio,acho que tinha a ver com não ter,por exemplo,"amigos" de influência forte para socorrê-lo nas horas ruins.
Há detalhes no rosto de meu tio que ainda hoje me vêm na lembrança, quando penso nele:os bigodes...eram enormes! os olhos azuis,num rosto inchado que sempre acusava o uso constante e exagerado de álcool, combinado com o cigarro de palha que ele sempre guardava atrás de uma das orelhas.Os cabelos pretos sempre penteados para trás,quando ele passava em minha casa,eu gostava de me sentar ao lado dele para ouvir o que dizia...apesar do controle intensivo de minha mãe, lembrando sempre a minha idade.
                             Tio Toninho aparecia em minha casa e suas visitas provocavam, por menor que fosse, uma comoção, principalmente quando bebia demais. Minha mãe quase sempre se zangava,mas acabava lhe arranjando roupas,obrigando-o a tomar um banho,um bom café mineiro  e forte, que ele bebia resmungando e ia direto para a cama,onde sempre dormia seguro, até passar  a bebedeira. Mas isto não me importava, porque a parte que eu mais gostava mesmo era o dia seguinte, quando ele acordava e, sentado à beira do fogão de lenha,me contava histórias engraçadas que às vezes eu nem entendia bem,mas sempre ficava feliz em ouvir...como a intrigante história de um certo presidente ditador a quem meu tio parecia venerar, mesmo sob a censura rigorosa de minha mãe...e ele sempre dizia,sorrindo:"Se acalme, Mariinha! si tengo las manos sucias,el viento las limpiará...a menina tem direitos!! tem ouvidos!!!"
Mais tarde vim a descobrir que a censura não vinha de minha mãe.Mas, sim, de gente muito mais poderosa, que tinha então o controle de tudo, até mesmo do que se pensava.Essa gente prendeu meu tio e foi assim que vi, pela primeira vez, uma cela de prisão...
                             Não me diziam porque ele estava ali, atrás daquelas grades.Não o vi mais em minha casa desde então e também não sei dizer ao certo quanto tempo ficou preso.Só me lembro de quando a campainha tocou de madrugada e meu pai saiu às pressas.Entre sussurros e muita correria, lá estava eu, mãos dadas com minha mãe,sob um céu maravilhosamente enluarado,enquanto minhas tias queimavam todos os pertences de meu tio Toninho. O clima era tenso, triste, sombriamente silencioso...Pilhas de livros queimavam, crepitando no fogo e na fumaça emergente, enquanto saíam do quarto dele, estranhos sons que lembravam lamentos, gemidos...e naquele instante eu não consegui mais ver a lua.Apenas a luz do fogo cortando a escuridão da noite.
                             Dias e dias se passaram,o entra e sai daquele quarto era uma bizarra rotina,o médico de voz rouca que me trouxe ao mundo saía com o olhar sem brilho, o rosto duro.Um dia ele saiu do quarto e minha mãe entrou com minhas tias, nem evitou que eu a seguisse,como vinha fazendo. A janela pequena do quarto abria para entrar o sol, meu tio sentado ao pé da cama,pálido,olhar perdido.Eu não sei se fantasiei,mas acho que tinha uma lágrima escorrendo naquele rosto sem luz..Ainda se sentia o odor do cigarro de palha,mas o armário de livros  só abrigava pequenos bonequinhos esquálidos feitos de caroço de manga, eu adorava vê-lo enquanto fazia aqueles bonecos!...chupar manga então, para mim, somavam dois prazeres...
                            Ao pedido dele, minha mãe levou-lhe água, enquanto uma sombra de sorriso parecia querer luzir naqueles lábios ressecados. Ele sorveu um gole, como se aquele simples gesto lhe roubasse a força que lhe restava, me fitou por um segundo e seus olhos azuis estranhamente pareciam serenos.Foi a última vez que o vi nesta vida.
                            Em outubro de 1965, meu tio Toninho morreu, em consequência de uma surra que levou na cadeia.Ele nunca se casou.Dizia que sua paixão era a Liberdade e tudo indica que foi esta mesma paixão o motivo que o levou ao cárcere.
Os livros queimados, soube mais tarde, eram biografias e idéias de personagens libertários, as histórias que minha mãe não o deixava me contar...eram livros "proibidos"...
Naquele ano eu não tive festa de aniversário.
                             Até hoje, o cheiro da manga me leva até ele. A palavara liberdade me lembra as histórias de tio Toninho. A música de Vítor Jara me traz  a luz dos olhos dele...
                             Talvez seja assim que as pessoas se tornam eternas...

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"Somos pájaros libres
Hermano,es tarde ya.
Volemos a la cumbre
Cúantos caminos recorre
el hombre sin descansar?
Y se muere en el camino
sin hallar la libertad
Cúantas veces en la noche
el soldado llorará?
Debe cumplir el mandato,
le enseñaron a matar!
Hasta cúando la pobreza
se tiene que soportar?
El hambre es un pozo oscuro
tan profundo como el mar...
Yo no soy aquel que soy
yo soy aquel que será.
SI TENGO LAS MANOS SUCIAS
EL VIENTO LAS LIMPARÁ!" (Victor Jara)

http://www.youtube.com/watch?v=ltAMZAGgATA&feature=player_embedded 

Tradução do título deste post:"Se tenho as mãos sujas, o vento as limpará!"...

                             

quinta-feira, março 11, 2010

Ansiedade,telefone,viagens fantasmas e feijões queimados...

O telefone tocou no meio da música do Zeca Baleiro.
Olhei então meio ansiosa para o relógio, minha intuição já me mandava 
para a cozinha. (rotina de dona de casa, a gente acaba "adivinhando"as horas!).
Pensando em quem estaria me ligando às 10 horas da manhã, em plena
segunda feira, corri para a sala, panela na mão e o pano de prato jogado
ao ombro, a ansiedade vindo atrás,parecendo avisar que o interfone 
também tocaria naquele exato momento.E tocou.
A panela de volta ao fogão,interfone num ouvido e telefone no outro,meu
gato Tião sobe na mesa...se pelo menos soubesse falar, o xereta!!
No interfone o medidor de água pedia para abrir o portão, enquanto uma
voz ávida do outro lado da linha dizia meu nome completo.
Quem deseja falar com ela? perguntei, já preparada para inventar uma saída,
ou coisa melhor: Olha, ela viajou...não, não sei quando volta...
quem fala? ah,  é a empregada...quando ela viaja eu fico aqui para alimentar os gatos!
Credicard...Visa...BrasilTelecom...Oi...LBV...Net...Sky...Claro...meu Deus!!!
onde essa gente consegue meu telefone, que nem está na lista justamente por 
causa desses "inconvenientes"???
E mesmo eu tendo dito que não era eu, ela continuava o mesmo blábláblá "
gerundiado" de sempre...e meu gato querendo carinho, acredita nisso?!! quando
estou num momento mais tranquilo, ele nem se lembra que eu existo!...
Sinto muito, mas não vejo outro jeito de me livar da outra ao telefone sem 
envolver uma pequena grosseria: desligo o telefone,ela que ligue pra outro,
ponho o gato no chão, lavo as mãos e vou para a cozinha, de onde vinha um
cheiro de coisa queimada:o feijão!!!perda total!!!!
Bem  neste instante minha ansiedade,  que já me levara da raiva à frustração,
aninhava-se em algum cantinho do meu cérebro,de onde sinalizava com a pa-
lavra "macarrão" como solução urgente para  o meu almoço atrasado.
Bem, modéstia à parte, eu devo dizer aqui que minha macarronada não é de
se jogar fora!...qualquer dia posso até postar a receita.
Meio dia, o avental já pendurado na parede da cozinha, uma ajeitadinha no
cabelo,saco de lixo com feijão queimado na lixeira e lá estou eu na porta da 
creche, Miguel no colo...Vovó!vovó!!! passarinho!!!
E a ansiedade já foi descansar bem longe, enquanto olhamos, eu e ele, o revoar
barulhento de um bando de andorinhas...

quarta-feira, março 03, 2010

Tem gente que não gosta...

Se existe uma coisa de que eu não goste mesmo é gente antipática!
Sabe, aquelas pessoas que não dizem  palavras mágicas, como
"muito obrigada!", "por favor!", "bom dia!","com licença!"...
Não quero que pensem que sou metida a boazinha,não!!porque eu também
tenho meus dias "negros", em que acordo querendo mais é mandar tudo
para aquele famoso lugar! ninguém está imune, afinal estamos vivendo o
mundo das emoções! injusto é jogar este baixo astral em cima do próximo,
que certamente não é o responsável ou causador de nossas eventuais "mazelas"!
Eu não sei olhar para as pessoas na rua com cara feia.
Gosto mesmo é de desejar bom dia, faço questão de pedir licença e me sinto sempre
na obrigação de agradecer às pessoas que me atendem em mercados, consultórios,
ao telefone...eu sou assim...e gosto disso!
E é tão bom dizer e ouvir "bom dia"!! às vezes me parece que era só este gesto que
faltava para que aquela pessoa que cumprimentei se sentisse um pouco melhor,
sei lá!
Mas, infelizmente, ainda tem gente que não pensa assim.E eu respeito isso, claro!  
O que não me impede de comentar a situação...digamos... constrangedora em que
me meti, por causa deste meu prazer em falar com todo mundo por aí...
               Era dia de feira no supermercado, que já estava bem cheio às 8 horas da
manhã, horário em que gosto de ir, coisas de dona de casa.
Entre batidas de carrinho,vendedores gritando, cortando abóboras com aquelas facas
de filme de terror ,gente reclamando dos preços altos, o corre - corre  dos moleques
carregadores, seus serviços por uns trocados...lá estou eu, com meu MP3 no ouvido
(bendita invenção!), alheia a tudo o que rola eletrizante ao meu redor...
Uma criança faz pirraça quando a mãe lhe nega uma guloseima, não é hora de doce!
eu apenas olho e sorrio, relembrando de coisas,aquelas coisas que a gente vive, mas de
que com certeza não se tem saudade...pois é...as mães sabem...
E assim, neste clima urbano quase tranquilo, finalmente consigo chegar ao caixa.
A fila? bem grandinha...paciência, é por isso também que gosto de ir cedo à feira!
Apoiada ao carrinho de compras, a fila vagarosa, uns 10 em minha frente...
E eis que ele aparece, impaciente!... reclamava da fila, do pouco tempo que tinha, das
funcionárias relapsas em seus caixas, etc...
Olho para trás e vejo um frango congelado nas mãos nervosas de um senhor que, se o
tempo e a vida não lhe exageraram na escultura de rugas, aparentava ter uns 60 anos,
mais ou menos a idade do David Gilmour...pena não ser ele, pensei já quase rindo...
nossa!que diferença!! um frango e uma guitarra!!...acreditem, prefiro a guitarra!
Principalmente, se tocada pelo Gilmour! e eu nem como frango!
"Senhora!!"
A voz do "moço" nervoso se fez ouvir mesmo com o solo do Carlos Santana.
Olhei com toda atenção e respeito para ele, já com os fones no bolso da calça.
Faltavam apenas 2 pessoas para que eu fosse atendida e ele, já sem nenhuma 
reserva de paciência, pediu...não, não foi bem um pedido...posso dizer, sendo educada, 
que foi mais que um pedido...foi uma sugestão...ele queria que eu o deixasse passar
em minha frente.
Aceitei. Afinal, o que é um frango congelado perto de um monte de verduras e frutas?!
E, enquanto a mocinha atarefada do caixa registrava a compra do senhorzinho apressado,
eu, só querendo aliviar o clima de correria, soltei a pérola (ou bomba?!!):
Eu o deixei passar, moça! - disse eu com um sorriso para a tensa funcionária - ele vai 
pagar minhas compras  também, hahaha!! - gente!! era só uma piadinha boba!!!
Mas o pobre "Senhor Nervoso" não acompanhou bem a  minha brincadeira e logo
se dirigiu a mim como se minha cara pudesse ser alvo de um frango, que já nem tão 
congelado estava:
"Olhe, minha senhora, me respeite que eu sou um homem bem casado e sou muito sério!"
Acredita que, por um segundo, eu ainda pensei que ele também estivesse brincando?!
Mas não estava. 
E, enquanto eu procurava disfarçar o calor vermelho da vergonha no
sorriso moco num canto da boca, o nervosinho saía com o bendito frango na sacola,
ainda resmungando. 
E a moça do caixa,coitada, me dirigiu um gentil "bom dia", como se com
este gesto pudesse apagar aquela estranha cena...
Claro que não apagou, mas aliviou minha vergonha! afinal, ainda era muito cedo
para "perder" o dia! - pensei, respirando fundo, um maço de couve na mão...
Talvez eu tenha perdido uma daquelas boas chances de ficar calada.
Disse o que não devia, ouvi o que não precisava...
A chuva que começou a cair me resfriou o rosto com carinho, enquanto
Carlos Santana voltava a tocar para mim.
Entrei no ônibus, o motorista me jogou um outro "bom dia!" e eu devolvi,
com prazer!
Pensando bem, não deixou de ser engraçada a cena.
Talvez aquele fosse um dia ruim para o Senhor Nervoso.Pode ser.
Ou talvez eu tenha exagerado na "gentileza".
Nem todo mundo entende uma brincadeira.
E tem gente que não gosta de desejar bom dia.









terça-feira, março 02, 2010

Escrevendo planos...

E lá vou eu (de novo) tentar outro concurso!
Desta vez é do Ministério da Cultura e o que mais me animou a
tentar este foi a prova de redação.
Muitos não gostam, mas eis aí uma coisa boa que ganhei do
UNIverso ao chegar neste mundo doido: eu amo escrever!
Como já registrei aqui, cuido exclusivamente de minha casa e família,
inclusive do meu netinho Miguel.
Faço pequenos trabalhos de costura, sou consultora de vendas, mas
gostaria de SAIR de casa para trabalhar, ter minha TOTAL indepen-
dência financeira! afinal, quem não quer?
E antes agora do que nunca, né?
Mas voltando ao que disse sobre gostar de escrever...
eu me lembro que desde bem jovem, o que me dava mais prazer de todos os
deveres de escola, era quando tinha uma redação.
Incrível como isto sempre me empolgou!
Houve um tempo no colégio, aos 13, 14 anos, eu comecei a imaginar histórias.
Eram simples, de pouca riqueza de conteúdo, mas aqueles "romances" para mim 
eram uma espécie de fuga, terapia, sei lá! eu me sentia tão feliz quando terminava
de escrever e podia mostrar para minhas amigas! e elas pareciam gostar!
Aí eu me enchia de coragem e idéias, e logo começava outra história.
Minha vida de adolescente era casa e escola e os meus sonhos eu
"contava' ali, naquelas páginas de caderno velho! eu me lembro que cheguei
a escrever uma história que envolvia minhas melhores amigas e nossos candidatos
a namorados, sabe? aquela coisa quase infantil de se apaixonar por alguém e
 nem ter coragem de chegar perto da pessoa, de olhar de longe e já sentir bater 
forte o coração! eu escrevi a história daquilo que eu sonhava ser! eu escrevia
meus sonhos...
Então, com o passar do tempo, comecei a me apaixonar por leitura e teatro
e, com o acontecer da vida, isto me deu mais conteúdo.
Passei a escrever pequenos poemas, eu amo ler poesia, nossa!! gosto de
ler em voz alta, parece que as palavras saem do livro e, através da minha voz,
entram direto em meu coração...
E aí, como uma mágica maravilhosa da vida minha mente  que parece gritar,
manda-me palavras para as mãos...e eu escrevo...e quando termino, é como
um orgasmo...ah, eu gosto, sim e muito, de escrever!
Pessoa, Lispector, Meireles, Drummond e todos os poetas que amo....eles que
me perdoem a blasfêmia...mas eu gosto de fazer poesia...
Penso que, se conseguir passar em um concurso, terei recursos para viajar,
adquirir mais conteúdos, aprender novas coisas, ver novas culturas e assim,
poder escrever melhor, com mais profundidade, mais riqueza de palavras...
Acho que a PALAVRA é algo muito importante para mim.
Eu gosto de conversar, de ouvir e ler as pessoas, gosto mesmo!
Acho muito bom quando converso com estranhos na rua, nas filas, nos pontos
de ônibus...as pessoas SEMPRE têm algo a nos dizer...e eu não sou diferente...
e sinto aqui dentro do meu coração, bobo de tão sonhador, que eu ainda tenho
muita, muita coisa prá contar...
Então, que venham as palavras!!!
E, se for desta vez a vontade de DEUS e do UNIverso...quem sabe eu não consiga
passar neste concurso?
Eu tenho mesmo é muito o que estudar...sorte prá mim!      

terça-feira, fevereiro 16, 2010

GUARANI

Vendo fotos de minha cidade natal, Guarani (MG), não pude
evitar o turbilhão de recordações e, claro, algumas até bem 
engraçadas, outras não tanto, enfim...lembranças!
Passei minha infância lá, de onde saí aos 11 anos.
Minha casa ficava numa rua que beirava o rio Pomba e era esta
a vista que eu tinha dos fundos de minha casa.
A areia, o rio, a chácara do outro lado, as canoas silenciosas,
desenhando em ondas nas águas que refletiam a luz do sol.
Havia também a Maria Fumaça, esta sim cortava o marasmo,
com seu apito, saudade de andar de trem!
Lembro-me de olhar as pessoas que iam e vinham,nas janelas
dos vagões, fantasiando de onde e para onde iam...
o morro da capelinha!...quando em tempo frio, a névoa cobria
a pequena cruz que era  então, para mim, inatingível!
E ainda recordo a emoção que senti ao entrar naquela igreja
pela primeira vez, num passeio de domingo...depois de subir pisando
no capim cheiroso, sob o olhar de um solitário boi, que parecia nos
seguir até o topo!...eu era tão pequena... tudo era alto,enorme, distante...
Havia um coreto na praça! que abrigou móveis numa enchente...
e quando, na oração, foi altar de bênçãos!
mas na política, um palco de mentiras...
no dia a dia, brinquedo das crianças, em riso e correria!
Filme de Mazzaropi com meu pai, o cheiro da pipoca e do cinema,
engraçado...eu chorava na escola e dizia ser saudade,
saudade de meu pai... ele nunca foi embora!
A vergonha na piscina, o triciclo, aniversários,carnaval...
dia de brincar na rua, um vestido pra sujar...
e minha mãe a se zangar! e o menino que eu gostava.
Nunca me perguntaram se eu era feliz lá...e eu nunca soube
o que era aquele aperto no coração, na despedida,
enquanto um caminhão levava tudo,
deixando vazia a casa...e parte de mim, me olhando pela varanda do jardim!
Foi a primeira vez que eu vi lágrimas nos olhos de minha mãe.

sábado, fevereiro 13, 2010

Meu presente de primavera...

Ela nasceu num dia claro de setembro! eu vi com alegria o sol
tomar meu quarto antes do primeiro sinal de sua chegada...
Eu já sabia que seria uma menina, eu sentia meu coração 
"ouvindo" o coraçãozinho dela!
Aisha nunca foi de muito esperar, por isto, nasceu rápido.
Foi o tempo de chegar na maternidade,os preparativos de rotina,
um parto "normalíssimo", como disse a médica cujas mãos a trouxeram ao
mundo!
Mas ela chegou pronta, linda,olhinhos brilhantes, os cabelos escuros que  em 
pouco tempo caíram, tramando naquela cabeça então branca e nua, a cabeleira 
que tem até hoje, a minha ruiva Aisha!
Quisera eu parar o tempo das lembranças que guardo dela, menina...
"Mamãe, o que é pecado?!"...respondi rápido e com carinho, vista a preocupação
naquele rosto em chamas!...não, não existe o pecado para os inocentes!
O pecado mora no coração de quem não "sabe" o amor !!
Carinhosa e guerreira, ela luta quando sabe o que quer!
Quis ser advogada, tudo bem...destino...ela é bem uma justiceira em minha vida...
Quando ela chega em casa à noite, meu dia se ilumina, é assim!!
Aisha não sabe o quanto me passa de segurança e força!
O laço que nos une é pleno, forte! ela é forte! mesmo se debulhando em lágrimas!
mesmo perdoando mágoas...mesmo quando teme a morte...
Gosto de falar de mim para ela.
E ela, quando fala, é de alma e corpo, é a voz presença inteira!
Nada fica para amanhã, ansiedade em pelo, coração na boca!!
Reclama agora, logo depois a gargalhada aporta, a vida chama!!
Minha ruiva e doce Aisha...mesmo quando o vendaval, a pressa!! e ela sai...
águia livre, voa...
deixando tudo em silêncio, cenário imóvel, à espera de sua volta...minha Aisha...
minha filha amiga Aisha, que veio quando ainda era setembro...


*** Significados do nome Aisha:

Do Swahili na África; significa "VIDA"
Variante de escrita do nome  árabe A'isha, que quer dizer "Ela, a que VIVE"

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Felicidade Suprema

Quando soube que estava grávida de minha filha Ananda, minha
vida acabava de dar uma reviravolta. Uma mudança que eu até hoje
chamo de bizarra.
Nosso padrão de vida não era assim, dos piores, morávamos então
de aluguel, mas em uma casa muito boa,que tinha até lavanderia, espaço
para carro e três cachorras, um jardim que era uma delícia de cuidar...
Meus filhos viviam felizes, a cada mês fazíamos compras fartas, inclusive 
roupas e brinquedos!
e na vizinhança havia muitas crianças para compartilhar a vida...
Até que veio o baque: o desemprego. De novo, o sonho acabava...
Fomos, então, morar em Formosa, Goiás. Fica a 1 hora de Brasília, mas nunca
me senti tão longe de TUDO, ao conhecer a cidade. Triste. Seca. Sem alma...e, pior
sem coração! as pessoas se esbarravam nas ruas,mas ninguém parecia amigo de ninguém!
Minha ficha caiu quando paramos em frente à casa em que iríamos morar.
Aisha, que então tinha uns 7 anos, mostrou uma expressão que eu nunca esperei ver
naquele rosto de olhar esverdeado e cheio de planos para o novo lar:
Mamãe!! quero ir embora!!! aqui eu não quero morar, não!!!por favor!
A casa realmente era ruim.Não era uma visão muito animadora
O espaço de fora era tão seco e árido quanto era a cidade...
Uma das cadelas, Baby, fugiu na noite da mudança, acho que ela não gostou
da nova moradia...minha querida Baby...ainda falarei dela, um dia...
O quintal parecia uma selva abandonada e o fato de chegarmos à noite,
exaustos com a viagem, tornou a visão ainda mais difícil...
Naquela noite, em meio a caixas, choro da Aisha e agitação do Tiago, meu
filho mais velho, não consegui dormir, pensando na Baby! sozinha, num lugar
estranho!!...
No dia seguinte, pude ver com mais calma o que me esperava ali:
a casa estava imunda, primeira providência: faxina geral!
Limpa a casa, já era noite...até que, depois das coisas organizadas, o lar
se tornara menos assustador, principalmente para Aisha.
E assim, tentando levar a vida, fomos "descobrindo" o lugar.
Sem boas vindas dos vizinhos, curiosamente minha cadela Batatinha
foi a responsável por eu conhecer a única vizinha de quem fiz questão
de me aproximar: Maria.
Dona de um pequeno bar que servia almoço para peões, era uma mulher
humilde, lutadora, mãe de 3 filhos, cujo pai nunca aparecia...
Ela, até mesmo antes de mim, "intuiu"meu estado:"Está grávida?", 
perguntou-me quando fui atrás da Batatinha, que insistia em fugir para
lá e beliscar petiscos jogados pelos fregueses...
Respondi que não, claro!! era só o que me faltava!!!
Mas aí tocou o alarme:Cadê minha menstruação?!?!! que enjôo foi aquele?!
O susto! nem precisava exame: eu estava,sim, muito grávida!!!!
Quis chorar, me desesperar, minha cabeça doía com a idéia de ter (mais um)
filho e ali, naquele lugar, naquelas circunstâncias!!!
À medida que o tempo passava, o corpo mudando, as crianças se adaptando...
Minha gravidez não foi muito fácil: enjôos até o sétimo mês, pré natal em Brasília,
eu viajava todos os meses para os exames...
Mas quis o UNIverso que Ananda nascesse lá mesmo, em Formosa.
Os médicos do DF acabavam de entrar em greve.
Sentindo as dores do parto, fui à pé para a maternidade, não tínhamos
dinheiro para o táxi!
Mesmo com tudo parecendo difícil, uma luz se acendeu ao chegarmos ao hospital:
Fui muito bem atendida, o obstetra de plantão foi um amor de pessoa,
Ananda nasceu,saudavelmente linda,e clara com os olhos azuis de minha mãe no 
dia de Santa Bárbara,ou Iansã, como preferirem, sob trovões e clarões que eu via
da janela da sala de parto,enquanto a água da chuva lavava os vidros.
Depois das dificuldades com amamentação( eu tive mastite, mas mesmo assim não
desisti de amamentar minha filha!), as coisas começaram a se encaixar, finalmente!
Quando Ananda completava 2 meses, voltamos novamente para Brasília e fomos 
recomeçar a vida, agora já com 3 filhos e sem cachorros...despedida triste para nós...
Mas isto é outra história que,com certeza, ainda quero contar...

Hoje, com Ananda completando 17 anos, agradeço a pessoa maravilhosa que o UNIverso
me deu num momento tão difícil! vejo-a como um presente divino.Ela veio para me 
mostrar que em todas as dificuldades há sempre uma parte boa, uma compensação!

Mas ficou em mim uma pergunta que ainda não consegui responder:
Por que tive que viver um tempo naquele lugar?
Alguma coisa a cumprir, ligada a vidas passadas?
Algo que eu deveria aprender ali que ainda não descobri?
Ou era porque Ananda precisava nascer ali?!
Não sei...o maravilhoso da vida são também estes mistérios!
Mistérios que a gente só desvenda quando chega a hora...
Tudo tem momento certo...e o exato lugar para ser...

Ah, só para esclarecer:
O nome "ANANDA" vem do sânscrito e significa Felicidade Suprema.



quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Nós de família...

"Sei que tenho os meus direitos sobre esta casa!!" disse ele com o olhar frio
de sempre, que nunca demonstra sentir nada...e olhava por cima , o
pé esquerdo à frente(esta pose é dele desde menino!), a mão na maçaneta da porta,
como se atendesse a uma indesejável visita...
Medindo 1,58cm, é claro que eu tinha que olhar para cima ao me dirigir a ele!
não gosto de falar com as pessoas sem falar nos olhos!
Meu corpo tremia. Não de medo...mas de uma mistura explosiva de tristeza, de
mágoa, decepção...
Aprendi com meu filho que nunca devemos criar expectativas em relação aos 
outros, porque cada um é diferente! mas eu tentei por muito tempo ensiná-lo a 
respeitar o outro, pela mesma razão: cada um é um universo...engraçado...por
inúmeras vezes o ouvi dizer isto às pessoas.
Mas para ele ninguém parece suficientemente bom e os que o rodeiam, como os
colegas de trabalho,mesmo o chefe..."todos uns bossais, ignorantes, infelizes,não
tenho tempo nem paciência para isso!"...ele nunca pede: manda!
Um dia, e foi a última vez em que falou comigo, me disse com todas as letras:"o
que considerava importante de verdade era criar o filho que acabava de nascer!"
O mesmo filho que mal o vê a cada 20, 30 dias ( e são praticamente vizinhos!).
Talvez seja porque ele pense que, em se tratando de família,não pode haver apego:
"precisa-se praticar a cada dia o desapego, para que não haja decepções nem sentimentos 
materiais, ilusórios!".Sim, ele lê o Baghavaghita!!!..." o que VALE não é deste mundo...
este mundo é transitório, a verdade não mora nos sentimentos terrenos!
Ora, ler e falar é muuuito bonito! concordo e amo os livros dos vedas!
Mas há que se ler e aprender e PRATICAR!! o que não é assim, tão fácil...penso
que se leva vidas para  aprender...
Quando pedi que desocupasse o quarto para que a irmã pudesse usá-lo,(estava de mudança para o próprio apartamento!) vi no olhar dele toda a filosofia de Ghita cair por terra, 
como casa de areia..."este é meu quarto! são meus os direitos!!"
E assim, ele fechou a porta...depois se foi...
Uma vida inteira passou diante dos meus olhos...eu queria gritar, chorar,
xingar até!!meu filho me virou as costas...como se eu fosse nada...como se nada fosse.
E não foi sem emoções terrenas que arranquei a tranca da porta, não foi sem sentimentos
ilusórios que retirei cada "coisa dele" e joguei em caixas,esvaziando o quarto,
levando tudo embora...
Depois de  ver o quarto vazio, me chamar de louca e dizer o quanto eu atrasei
a sua vida, eu percebi que talvez ele nunca mais fale comigo nesta atual existência.
Hoje eu sei que não mais poderia suportar aquela indiferença, todo aquele desprezo,
silêncio e arrogância por muito tempo.
É muito estranho viver ao lado de alguém que simplesmente ignora nossa presença,
desprezando e desrespeitando,sem culpa, nossos espaços e pensamentos! mesmo que 
este alguém seja um filho querido...
A minha escolha veio em consequência daquilo que ele escolheu...
Vai doer por muito tempo.Mas uma coisa me acalma e consola:
Como ele mesmo por várias vezes apregoou para quem quisesse ouvir,
"sempre devemos seguir o caminho do coração".
Como estes caminhos às vezes são difíceis e aparentemente contraditórios!!!
Ele pode nem entender isto algum dia...mas eu obedeci ao comando do meu...
E o que fiz, embora sob o forte efeito de emoções inúmeras, foi exatamente a 
minha última tentativa de mostrá-lo que nem tudo o que é espelho  de nós mesmos
pode ser certo, verdadeiro ou bonito...
Claro que não deixei nem nunca deixarei de amá-lo...mágoas passam...eu sei...e
quero mais é que ele se sinta em paz!!!

No dia 15 de fevereiro completar-se-ão 28 anos que ele nasceu de mim, parto difícil!
Não mais difícil do que a dor de vê-lo indo embora...





 

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

BEBETE

Nem sei dizer com exatidão como nos conhecemos, apenas sei
que, quando me lembro de minhas voltas para casa depois das aulas,
lá estava ela! alta, queixo erguido, o uniforme impecavelmente limpo, o
cabelo sempre bem cuidado, lembro-me do brilho dele!! e aquele riso?!
o que era aquilo, meu Deus?!?! ela ria pra iluminar o mundo!!
Os dentes brancos contrastavam, lindos, com a cor de sua pele negra!
A amiga preta mais linda que tive: Bebete!!
Bebete era filha de trabalhadores, casa e família humildes; mas nunca me esqueci
daquele olhar altivo, focado no horizonte...ela não era de baixar a cabeça!!
Raras eram as vezes em que não a via soltar sonoras e lacrimejantes gargalhadas,
o motivo? sei lá...a gente ria de tudo!! bastava, às vezes, uma olhar para a outra,
ou uma palavra que soasse estranha...e lá estávamos "despencando" risos e risos...
Não precisava motivo para rir...tudo era alegria ao lado dela!!
Inteligente, não me lembro que tenha tirado uma nota baixa sequer!
Carinhosa, amável...amiga...
Havia na casa da Bebete um aconchego que eu não sentia em minha casa...
Havia um aconchego no olhar dela...na gargalhada dela...
E assim, como não me lembro bem de como nos conhecemos, também não me
lembro de quando nos separamos...só sei que nunca a esqueci...e sei que ela também
nunca se esqueceu de mim...
Hoje acordei com saudade, muita saudade de você, Bebete!!
Todas as vezes que rio com alguém, uma piada, uma lembrança engraçada,
uma brincadeira...sei lá...tem sempre você...
Quero que saiba que, em cada sorriso meu, mesmo que triste, há sempre uma
sombra iluminada daquele contagiante som feliz que saía de sua boca!

Um dia ainda quem sabe nos veremos de novo e aí, adivinhe...
As lembranças e a alegria nos farão soltar muitas outras deliciosas
gargalhadas...talvez neste exato momento, em algum lugar por aí,
você esteja rindo...

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Ignorância pode ser um atraso....

Tenho um grande amigo que adora lembrar e me zoar, principalmente
quando estamos tomando uma cervejinha entre amigos, por exemplo,
contando, na versão dele, um fato que me ocorreu há tempos!
Claro que a história dele, espirituoso, é sempre quase uma piada...
Eis agora definitivamente a minha versão, a verdadeira:
Tenho uns primos que moram há anos em Belo Horizonte(MG) e, na minha juventude,
eu amava passar férias lá,pois havia sempre algo divertido para fazer.
Era o oitavo andar de um prédio, cujas janelas ficavam de frente para um edifício
de repúblicas e pensões para estudantes.
Quando não era possível  sair, eu ficava na janela, observando as pessoas.
Era engraçado, porque, penso que quando se mora em lugares altos, é bem comum,
às vezes, um ou outro esquecer que da janela em frente, alguém pode nos flagrar
em situações tipo saindo do banho, sem toalha...curtindo a intimidade do lar,um
daqueles momentos que "são só nossos"...ou pelo menos deveriam ser...
Por favor, não foi de propósito, não!!eu juro!...mas me chamou a atenção, um dia,
um rapaz muito bonito que avistei envolto em uma toalha.As evidências mostravam 
que ele, após um banho, preparava-se para sair...Bem, devo dizer que não fiquei olhando 
olhando feito uma tarada, não!!! até dei um tempo ,fui à cozinha, tomei um suco...
mas a curiosidade, confesso, falou mais alto e quando voltei à janela, lá estava ele.
Já vestido, olhava para fora enquanto penteava os cabelos, que eram lisos,caídos
ao ombro e o azul da camisa realçava a pele morena!! que gato, eu pensava!!
Tímida, mas determinada, continuei a olhar.Ele parecia alguém triste...
Ele me viu!! está olhando pra cá!!!me escondi!!
Neste momento, minha prima que havia chegado, incentivou-me a continuar o
"flerte"...e assim, sempre nos mesmos horários, aquela criatura aparecia  e meu
dia ficava mais alegre...não o vi mais só de toalha, mas sempre o esperava  chegar 
à  janela, até ousei certa vez a mandar um "oi" com um tímido aceno e um sorriso.
Pois bem...certa tarde, ao sair para o cinema, a surpresa paralisante! lá estava ele,
sentado na portaria de seu prédio, parecia até que esperava por mim...sonhos...e,
de perto, ele parecia ser mais solitário!...aquele olhar vago, triste...
Sem pensar duas vezes, atravessei a rua, para que ele me notasse ,sei lá, reconhecesse...
qualquer coisa eu entrava na farmácia ao lado, pra não "dar bandeira"...
Quando já, em frente à entrada do prédio onde morava meu "príncipe" platônico
veio o baque! uma bengala branca que ele segurava, tateando o chão para se
orientar, fez cair minha "ficha"!!
Ele nunca me viu da janela!! eu o "invadi",sem que ele nunca viesse a saber...
Não foi a cegueira dele ...foi minha timidez  que, aliada traiçoeiramente à minha 
infeliz ignorância, nunca me deixou chegar mais perto dele do que naquele dia!!
E assim...ele nunca pode me "ver"! nem que fosse prá saber que eu existia...
Nem que fosse só prá isso...saber que alguém o "via"todos os dias... por uma janela...



 

A chave de mim...

Sobre mim?...
Minha vida não foi muito fácil, mas nem por isso deixou de ser bela.
Fui pai e mãe de meus 3 filhos, mesmo antes de me separar do pai deles.
Dependente dele nas questões financeiras, ficou meio complicado para
mim a princípio.
Eu terminei o segundo grau quando minha filha mais nova  já estava no
jardim de infância e claro que meu então ainda marido não gostou muito
da nova situação. Afinal, mesmo posando de moderno, o que ele gostava
 mesmo era de me encontrar todos os dias em casa, de mulherzinha e mãe
bem comportada, ainda que me sentisse nula e mal amada.
Histórias assim se repetem a cada dia, em vários lares,mesmo nos dias de 
hoje.
Eu abandonei meu emprego assim que engravidei do primeiro filho e foi 
uma opção minha, pensando em voltar quando minha "prole" se tornasse 
mais independente.
O tempo foi passando,as crianças crescendo e meu casamento só deteriorava
a contragosto de minhas tentativas de reverter e recomeçar! Inevitável!
Conviver foi se trornando impossível.Humilhações, indiferenças e até uma
traição! (não com outra mulher, mas falo desta "traição" em outro post!).
Veio a separação...
Certos finais são tristes e este não dá para esquecer...claro...foram 20 anos!
Mesmo assim ,como é a natureza sábia e regeneradora, sobrevivemos...
Aí comecei minha busca por mim mesma...
Olííííviaaaaaaaa!!! cadê vocêêê!!!!
Pensei então que havia perdido a chave de mim...
Hoje em dia, já percebi que a tal chave sempre esteve dentro do meu coração.
Mas ainda tenho muuuuitas portas e janelas a abrir...




quarta-feira, janeiro 27, 2010

Depressão: eu e ela...

Um dia, aquela sensação horrível, que me acompanhava o tempo inteiro,
começou a me tirar o sono.Eu me virava e revirava na cama e aqueles estranhos
pensamentos não iam embora e, quando o dia chegava,lá estava eu...péssima!
O espelho só me mostrava a tristeza dos meus olhos.
Meu rosto era uma sombra da aflição que eu sentia.
E o choro vinha, impune, da alma, que ardia e ardia numa dor interminável.
Assim "descobri" minha primeira crise de depressão.
Sabe como é?...só quem teve sabe...
Eu ainda fumava na época e a ansiedade eu tentava queimar assim...no cigarro...
claro que era um ilusão, porque não se queima a ansiedade fumando!
Ela brinca...finge que vai embora quando a gente acende o cigarro!
e depois volta, ardilosa, invasiva, poderosamente astuta...
Meu Deus! eu pensava, todo mundo é feliz, menos eu!!!!!

Nessa loucura, eu fumava dois maços de cigarro por dia...e não me sentia feliz...
Minha casa? uma loucura! só o fato de saber que eu tinha que me levantar da
cama, já me deixava angustiada!...eu só queria dormir...e se acordasse,só queria
fazer tudo correndo, para fumar e voltar a dormir...
Até que uma amiga minha, ao me "flagrar" numa crise horrível de choro,
me falou sobre o que eu poderia estar enfrentando:o nome era DEPRESSÃO!
Ahhhhh!...então, não era preguiça?!!meu "ex" dizia que era...e, pior... EU ACREDITAVA!!!!
Meu primeiro antidepressivo se chamava Fluoxetina.
Acreditem, isto misturado com álcool não dá certo, não!!...coisa de louco...
Mas, quem não for louco nesta vida que atire a primeira pedra!!
Três anos depois da terceira crise feia, estou me dando um tempo dos medicamentos,
que "evoluíram" para cloridrato de sertralina.
Estou sem tomar comprimidos há 1 mês e espero tão cedo não precisar de novo...
Mas a depressão teve um papel muito importante na minha vida.Vida????
Eu não tinha vida!!...era só casa e filhos!!!
Se eu não ficasse doente, deprimida, jamais pensaria nisso!! que existe vida
além da porta do meu apartamento!!!
Eis o que aprendi de bom na depressão: a vida não espera... ou a gente corre e vive,
ou deita e dorme...
Remédios, terapias, conselhos, muita solidão...muito pensar no que fazer...
Não sei e nem quero saber o que acontecerá amanhã!...
Só sei que hoje sou mais humana, mais madura(hahahahaha!!...nem sempre...),
eu me sinto mais em paz....comecei até a redescobrir a mulher que sou!
E que a Alegria de VIVER invada nossas almas!!! Amém!!



Depressão é um assunto muito longo e complexo.
Por isso, ainda postarei muitas outras situações que vivi em função
desta doença.
E, se você que estiver lendo isto tiver algo a me contar aqui, dividir comigo,
nossa!! será muito bem vindo(a)!!
Este blog não terá sentido algum se não for compartilhado!!


PAZ PROFUNDA!