sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Felicidade Suprema

Quando soube que estava grávida de minha filha Ananda, minha
vida acabava de dar uma reviravolta. Uma mudança que eu até hoje
chamo de bizarra.
Nosso padrão de vida não era assim, dos piores, morávamos então
de aluguel, mas em uma casa muito boa,que tinha até lavanderia, espaço
para carro e três cachorras, um jardim que era uma delícia de cuidar...
Meus filhos viviam felizes, a cada mês fazíamos compras fartas, inclusive 
roupas e brinquedos!
e na vizinhança havia muitas crianças para compartilhar a vida...
Até que veio o baque: o desemprego. De novo, o sonho acabava...
Fomos, então, morar em Formosa, Goiás. Fica a 1 hora de Brasília, mas nunca
me senti tão longe de TUDO, ao conhecer a cidade. Triste. Seca. Sem alma...e, pior
sem coração! as pessoas se esbarravam nas ruas,mas ninguém parecia amigo de ninguém!
Minha ficha caiu quando paramos em frente à casa em que iríamos morar.
Aisha, que então tinha uns 7 anos, mostrou uma expressão que eu nunca esperei ver
naquele rosto de olhar esverdeado e cheio de planos para o novo lar:
Mamãe!! quero ir embora!!! aqui eu não quero morar, não!!!por favor!
A casa realmente era ruim.Não era uma visão muito animadora
O espaço de fora era tão seco e árido quanto era a cidade...
Uma das cadelas, Baby, fugiu na noite da mudança, acho que ela não gostou
da nova moradia...minha querida Baby...ainda falarei dela, um dia...
O quintal parecia uma selva abandonada e o fato de chegarmos à noite,
exaustos com a viagem, tornou a visão ainda mais difícil...
Naquela noite, em meio a caixas, choro da Aisha e agitação do Tiago, meu
filho mais velho, não consegui dormir, pensando na Baby! sozinha, num lugar
estranho!!...
No dia seguinte, pude ver com mais calma o que me esperava ali:
a casa estava imunda, primeira providência: faxina geral!
Limpa a casa, já era noite...até que, depois das coisas organizadas, o lar
se tornara menos assustador, principalmente para Aisha.
E assim, tentando levar a vida, fomos "descobrindo" o lugar.
Sem boas vindas dos vizinhos, curiosamente minha cadela Batatinha
foi a responsável por eu conhecer a única vizinha de quem fiz questão
de me aproximar: Maria.
Dona de um pequeno bar que servia almoço para peões, era uma mulher
humilde, lutadora, mãe de 3 filhos, cujo pai nunca aparecia...
Ela, até mesmo antes de mim, "intuiu"meu estado:"Está grávida?", 
perguntou-me quando fui atrás da Batatinha, que insistia em fugir para
lá e beliscar petiscos jogados pelos fregueses...
Respondi que não, claro!! era só o que me faltava!!!
Mas aí tocou o alarme:Cadê minha menstruação?!?!! que enjôo foi aquele?!
O susto! nem precisava exame: eu estava,sim, muito grávida!!!!
Quis chorar, me desesperar, minha cabeça doía com a idéia de ter (mais um)
filho e ali, naquele lugar, naquelas circunstâncias!!!
À medida que o tempo passava, o corpo mudando, as crianças se adaptando...
Minha gravidez não foi muito fácil: enjôos até o sétimo mês, pré natal em Brasília,
eu viajava todos os meses para os exames...
Mas quis o UNIverso que Ananda nascesse lá mesmo, em Formosa.
Os médicos do DF acabavam de entrar em greve.
Sentindo as dores do parto, fui à pé para a maternidade, não tínhamos
dinheiro para o táxi!
Mesmo com tudo parecendo difícil, uma luz se acendeu ao chegarmos ao hospital:
Fui muito bem atendida, o obstetra de plantão foi um amor de pessoa,
Ananda nasceu,saudavelmente linda,e clara com os olhos azuis de minha mãe no 
dia de Santa Bárbara,ou Iansã, como preferirem, sob trovões e clarões que eu via
da janela da sala de parto,enquanto a água da chuva lavava os vidros.
Depois das dificuldades com amamentação( eu tive mastite, mas mesmo assim não
desisti de amamentar minha filha!), as coisas começaram a se encaixar, finalmente!
Quando Ananda completava 2 meses, voltamos novamente para Brasília e fomos 
recomeçar a vida, agora já com 3 filhos e sem cachorros...despedida triste para nós...
Mas isto é outra história que,com certeza, ainda quero contar...

Hoje, com Ananda completando 17 anos, agradeço a pessoa maravilhosa que o UNIverso
me deu num momento tão difícil! vejo-a como um presente divino.Ela veio para me 
mostrar que em todas as dificuldades há sempre uma parte boa, uma compensação!

Mas ficou em mim uma pergunta que ainda não consegui responder:
Por que tive que viver um tempo naquele lugar?
Alguma coisa a cumprir, ligada a vidas passadas?
Algo que eu deveria aprender ali que ainda não descobri?
Ou era porque Ananda precisava nascer ali?!
Não sei...o maravilhoso da vida são também estes mistérios!
Mistérios que a gente só desvenda quando chega a hora...
Tudo tem momento certo...e o exato lugar para ser...

Ah, só para esclarecer:
O nome "ANANDA" vem do sânscrito e significa Felicidade Suprema.



Um comentário:

  1. Mas eu me delicio com o que vc escreve!Eu ficaria lendo vc por toda a vida,se pudesse!Consigo captar todas os sentimentos contidos em cada frase!É uma benção ! Considero mesmo um presente de Deus ter vc escrevendo de novo!
    Ananda!Tem os cabelos cor de fogo com cachos como a mãe teve nos tempos de ruivez verdadeira...
    Interessante uma coisa:Tiago cortou sua carne,fez sangrar,no entanto,ele tb mereceu citação no seu blog,tanto quanto a bençao chamada Ananda!E...ele foi o primeiro!Que ironia,né? Mas os olhos da mãe sempre se voltam para o mais fraco,o que mais necessita de atenção!N é puxa saquismo ,é apenas uma femea tentando buscar o filhote perdido...
    Linda historia a de Ananda!Linda Ananda!

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