terça-feira, março 23, 2010

Por água abaixo...

                                Ele usava uma camiseta branca com a cara do Gandhi e eu não pude deixar de olhar.O chinelo e a bermuda pareciam "querer"torná-lo mais jovem do que seus cabelos e rugas mostravam.O "fenômeno" que chamamos de tempo se encarrega de nos delatar a idade, e usando nossas próprias mãos!!
Mas ele não parecia se preocupar com isto, distraído, lendo algo em seu celular,uma mensagem, talvez!e isto me dava uma certa vantagem, eu podia observar "de perto" com mais calma aquela figura interessante...
Ei, eu não sou de ficar paquerando ninguém pela rua, não!pelo contrário, às vezes eu penso que poderia até ser um pouco mais ousada. Afinal, não devo nada a ninguém...mas e a bendita coragem?! sumiu por trás da minha cara vermelha feito fogo, quando num movimento brusco,ele guardou o celular no bolso, olhando na minha direção.Caramba! ele até que era bonitão! os cabelos crespos mas bem cuidados tinham mechas brancas misturadas àquele castanho que combinavam com a cor dos olhos...que eu já não via, tentando encontrar "algo" na bolsa, para não me trair! onde foi parar meu MP3, droga!!...onde eu deixei?
Onde eu deixei? esta pergunta entrou no meu cérebro, fazendo todo o meu trajeto desde antes de sair de casa: troquei a roupa, calcei a sandália, os cabelos eu arrumei diante do espelho, escovei os dentes, desliguei a máquina...nããão!!! a máquina!!!
"Tem horas? tentei ver no meu celular, mas a bateria descarregou"...responde, idiota!!!esquece a máquina de lavar!!!era só o que eu conseguia pensar, enquanto olhava para o relógio no meu pulso, desajeitada ainda  com a mão dentro da bolsa, a cara de palerma...nem ouvi minha voz dizer 9 horas...
E ele dizendo que estava atrasado, que não morava em Brasília e precisava chegar a um shopping naquele horário, encontrar sei lá quem...mas e a máquina?
Minha antiga máquina de lavar era temperamental...lavava muito bem, mas na hora de torcer a roupa...o mundo parecia em guerra,certa vez minha vizinha reclamou do barulho, pois eu a havia ligado depois das 22 horas...e às vezes, ela resolvia encher sem parar, até a água transbordar transatlanticamente a minha cozinha, descendo para o terceiro andar...
Ele nem podia sequer imaginar o que rolava no meu cérebro louco, enquanto tentava descobrir que ônibus chegaria mais rápido no lugar onde ele precisava estar.
Era o mesmo ônibus que eu pegaria...aliás,se não fosse a maldita lavadora,poderíamos descer no mesmo ponto, a companhia poderia ser até interessante...ele diria de onde era, com sorte não seria casado e me convidaria para uma cervejinha....e eu o levaria a um bar onde pudéssemos conversar, nos conhecer.Falei em amizade...
Meu Deus!! eu devo ter ficado maluca de vez!! grandes chances de gente nova em minha vida e eu só conseguia me "ver" com as pernas da calça arregaçadas até o joelho, rodo na mão, a água inundando a portaria do prédio, os vizinhos querendo me esganar!! ah, não!!!!
- É este?- perguntava ele, o ônibus já estava ali, parado, sem que eu percebesse sua chegada.
Com a cara roxa de vergonha e acho até que gaguejei, respondi que sim...ele me agradeceu com um largo sorriso, entrou no ônibus e se foi...ainda me acenou lá de dentro!!!!!
Inúmeras qualidades eu atribuía a mim mesma enquanto fazia o caminho de volta para minha casa,sentindo uma pontadinha de frustração, misturada à ansiedade de chegar logo e conferir os possíveis estragos.
E enquanto pendurava a roupa lavada no varal, porque a máquina desta vez funcionou divina e debochadamente, eu continuava a me autodenominar de vários nomes...
                             E a boa notícia?...comprei uma lavadora nova...

terça-feira, março 16, 2010

"Si tengo las manos sucias, el viento las limpiará!"

                           Certas coisas a gente nunca esquece,mesmo que o tempo tente apagar.Eu tinha 8 anos quando morreu meio tio Toninho.
                            O mais novo dos seis irmãos de minha mãe era rebelde! eu cresci ouvindo histórias de como meus avós tentavam domar  tanta ânsia de ser livre, que o levava muitas vezes a cometer erros naquele tempo imperdoáveis, principalmente se praticados por pessoas de origem humilde, sem o que  minha mãe costumava chamar de "costas largas". Eu nunca entendi muito bem o  verdadeiro significado desta expressão,mas a julgar pelas situações em que se metia meu tio,acho que tinha a ver com não ter,por exemplo,"amigos" de influência forte para socorrê-lo nas horas ruins.
Há detalhes no rosto de meu tio que ainda hoje me vêm na lembrança, quando penso nele:os bigodes...eram enormes! os olhos azuis,num rosto inchado que sempre acusava o uso constante e exagerado de álcool, combinado com o cigarro de palha que ele sempre guardava atrás de uma das orelhas.Os cabelos pretos sempre penteados para trás,quando ele passava em minha casa,eu gostava de me sentar ao lado dele para ouvir o que dizia...apesar do controle intensivo de minha mãe, lembrando sempre a minha idade.
                             Tio Toninho aparecia em minha casa e suas visitas provocavam, por menor que fosse, uma comoção, principalmente quando bebia demais. Minha mãe quase sempre se zangava,mas acabava lhe arranjando roupas,obrigando-o a tomar um banho,um bom café mineiro  e forte, que ele bebia resmungando e ia direto para a cama,onde sempre dormia seguro, até passar  a bebedeira. Mas isto não me importava, porque a parte que eu mais gostava mesmo era o dia seguinte, quando ele acordava e, sentado à beira do fogão de lenha,me contava histórias engraçadas que às vezes eu nem entendia bem,mas sempre ficava feliz em ouvir...como a intrigante história de um certo presidente ditador a quem meu tio parecia venerar, mesmo sob a censura rigorosa de minha mãe...e ele sempre dizia,sorrindo:"Se acalme, Mariinha! si tengo las manos sucias,el viento las limpiará...a menina tem direitos!! tem ouvidos!!!"
Mais tarde vim a descobrir que a censura não vinha de minha mãe.Mas, sim, de gente muito mais poderosa, que tinha então o controle de tudo, até mesmo do que se pensava.Essa gente prendeu meu tio e foi assim que vi, pela primeira vez, uma cela de prisão...
                             Não me diziam porque ele estava ali, atrás daquelas grades.Não o vi mais em minha casa desde então e também não sei dizer ao certo quanto tempo ficou preso.Só me lembro de quando a campainha tocou de madrugada e meu pai saiu às pressas.Entre sussurros e muita correria, lá estava eu, mãos dadas com minha mãe,sob um céu maravilhosamente enluarado,enquanto minhas tias queimavam todos os pertences de meu tio Toninho. O clima era tenso, triste, sombriamente silencioso...Pilhas de livros queimavam, crepitando no fogo e na fumaça emergente, enquanto saíam do quarto dele, estranhos sons que lembravam lamentos, gemidos...e naquele instante eu não consegui mais ver a lua.Apenas a luz do fogo cortando a escuridão da noite.
                             Dias e dias se passaram,o entra e sai daquele quarto era uma bizarra rotina,o médico de voz rouca que me trouxe ao mundo saía com o olhar sem brilho, o rosto duro.Um dia ele saiu do quarto e minha mãe entrou com minhas tias, nem evitou que eu a seguisse,como vinha fazendo. A janela pequena do quarto abria para entrar o sol, meu tio sentado ao pé da cama,pálido,olhar perdido.Eu não sei se fantasiei,mas acho que tinha uma lágrima escorrendo naquele rosto sem luz..Ainda se sentia o odor do cigarro de palha,mas o armário de livros  só abrigava pequenos bonequinhos esquálidos feitos de caroço de manga, eu adorava vê-lo enquanto fazia aqueles bonecos!...chupar manga então, para mim, somavam dois prazeres...
                            Ao pedido dele, minha mãe levou-lhe água, enquanto uma sombra de sorriso parecia querer luzir naqueles lábios ressecados. Ele sorveu um gole, como se aquele simples gesto lhe roubasse a força que lhe restava, me fitou por um segundo e seus olhos azuis estranhamente pareciam serenos.Foi a última vez que o vi nesta vida.
                            Em outubro de 1965, meu tio Toninho morreu, em consequência de uma surra que levou na cadeia.Ele nunca se casou.Dizia que sua paixão era a Liberdade e tudo indica que foi esta mesma paixão o motivo que o levou ao cárcere.
Os livros queimados, soube mais tarde, eram biografias e idéias de personagens libertários, as histórias que minha mãe não o deixava me contar...eram livros "proibidos"...
Naquele ano eu não tive festa de aniversário.
                             Até hoje, o cheiro da manga me leva até ele. A palavara liberdade me lembra as histórias de tio Toninho. A música de Vítor Jara me traz  a luz dos olhos dele...
                             Talvez seja assim que as pessoas se tornam eternas...

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"Somos pájaros libres
Hermano,es tarde ya.
Volemos a la cumbre
Cúantos caminos recorre
el hombre sin descansar?
Y se muere en el camino
sin hallar la libertad
Cúantas veces en la noche
el soldado llorará?
Debe cumplir el mandato,
le enseñaron a matar!
Hasta cúando la pobreza
se tiene que soportar?
El hambre es un pozo oscuro
tan profundo como el mar...
Yo no soy aquel que soy
yo soy aquel que será.
SI TENGO LAS MANOS SUCIAS
EL VIENTO LAS LIMPARÁ!" (Victor Jara)

http://www.youtube.com/watch?v=ltAMZAGgATA&feature=player_embedded 

Tradução do título deste post:"Se tenho as mãos sujas, o vento as limpará!"...

                             

quinta-feira, março 11, 2010

Ansiedade,telefone,viagens fantasmas e feijões queimados...

O telefone tocou no meio da música do Zeca Baleiro.
Olhei então meio ansiosa para o relógio, minha intuição já me mandava 
para a cozinha. (rotina de dona de casa, a gente acaba "adivinhando"as horas!).
Pensando em quem estaria me ligando às 10 horas da manhã, em plena
segunda feira, corri para a sala, panela na mão e o pano de prato jogado
ao ombro, a ansiedade vindo atrás,parecendo avisar que o interfone 
também tocaria naquele exato momento.E tocou.
A panela de volta ao fogão,interfone num ouvido e telefone no outro,meu
gato Tião sobe na mesa...se pelo menos soubesse falar, o xereta!!
No interfone o medidor de água pedia para abrir o portão, enquanto uma
voz ávida do outro lado da linha dizia meu nome completo.
Quem deseja falar com ela? perguntei, já preparada para inventar uma saída,
ou coisa melhor: Olha, ela viajou...não, não sei quando volta...
quem fala? ah,  é a empregada...quando ela viaja eu fico aqui para alimentar os gatos!
Credicard...Visa...BrasilTelecom...Oi...LBV...Net...Sky...Claro...meu Deus!!!
onde essa gente consegue meu telefone, que nem está na lista justamente por 
causa desses "inconvenientes"???
E mesmo eu tendo dito que não era eu, ela continuava o mesmo blábláblá "
gerundiado" de sempre...e meu gato querendo carinho, acredita nisso?!! quando
estou num momento mais tranquilo, ele nem se lembra que eu existo!...
Sinto muito, mas não vejo outro jeito de me livar da outra ao telefone sem 
envolver uma pequena grosseria: desligo o telefone,ela que ligue pra outro,
ponho o gato no chão, lavo as mãos e vou para a cozinha, de onde vinha um
cheiro de coisa queimada:o feijão!!!perda total!!!!
Bem  neste instante minha ansiedade,  que já me levara da raiva à frustração,
aninhava-se em algum cantinho do meu cérebro,de onde sinalizava com a pa-
lavra "macarrão" como solução urgente para  o meu almoço atrasado.
Bem, modéstia à parte, eu devo dizer aqui que minha macarronada não é de
se jogar fora!...qualquer dia posso até postar a receita.
Meio dia, o avental já pendurado na parede da cozinha, uma ajeitadinha no
cabelo,saco de lixo com feijão queimado na lixeira e lá estou eu na porta da 
creche, Miguel no colo...Vovó!vovó!!! passarinho!!!
E a ansiedade já foi descansar bem longe, enquanto olhamos, eu e ele, o revoar
barulhento de um bando de andorinhas...

quarta-feira, março 03, 2010

Tem gente que não gosta...

Se existe uma coisa de que eu não goste mesmo é gente antipática!
Sabe, aquelas pessoas que não dizem  palavras mágicas, como
"muito obrigada!", "por favor!", "bom dia!","com licença!"...
Não quero que pensem que sou metida a boazinha,não!!porque eu também
tenho meus dias "negros", em que acordo querendo mais é mandar tudo
para aquele famoso lugar! ninguém está imune, afinal estamos vivendo o
mundo das emoções! injusto é jogar este baixo astral em cima do próximo,
que certamente não é o responsável ou causador de nossas eventuais "mazelas"!
Eu não sei olhar para as pessoas na rua com cara feia.
Gosto mesmo é de desejar bom dia, faço questão de pedir licença e me sinto sempre
na obrigação de agradecer às pessoas que me atendem em mercados, consultórios,
ao telefone...eu sou assim...e gosto disso!
E é tão bom dizer e ouvir "bom dia"!! às vezes me parece que era só este gesto que
faltava para que aquela pessoa que cumprimentei se sentisse um pouco melhor,
sei lá!
Mas, infelizmente, ainda tem gente que não pensa assim.E eu respeito isso, claro!  
O que não me impede de comentar a situação...digamos... constrangedora em que
me meti, por causa deste meu prazer em falar com todo mundo por aí...
               Era dia de feira no supermercado, que já estava bem cheio às 8 horas da
manhã, horário em que gosto de ir, coisas de dona de casa.
Entre batidas de carrinho,vendedores gritando, cortando abóboras com aquelas facas
de filme de terror ,gente reclamando dos preços altos, o corre - corre  dos moleques
carregadores, seus serviços por uns trocados...lá estou eu, com meu MP3 no ouvido
(bendita invenção!), alheia a tudo o que rola eletrizante ao meu redor...
Uma criança faz pirraça quando a mãe lhe nega uma guloseima, não é hora de doce!
eu apenas olho e sorrio, relembrando de coisas,aquelas coisas que a gente vive, mas de
que com certeza não se tem saudade...pois é...as mães sabem...
E assim, neste clima urbano quase tranquilo, finalmente consigo chegar ao caixa.
A fila? bem grandinha...paciência, é por isso também que gosto de ir cedo à feira!
Apoiada ao carrinho de compras, a fila vagarosa, uns 10 em minha frente...
E eis que ele aparece, impaciente!... reclamava da fila, do pouco tempo que tinha, das
funcionárias relapsas em seus caixas, etc...
Olho para trás e vejo um frango congelado nas mãos nervosas de um senhor que, se o
tempo e a vida não lhe exageraram na escultura de rugas, aparentava ter uns 60 anos,
mais ou menos a idade do David Gilmour...pena não ser ele, pensei já quase rindo...
nossa!que diferença!! um frango e uma guitarra!!...acreditem, prefiro a guitarra!
Principalmente, se tocada pelo Gilmour! e eu nem como frango!
"Senhora!!"
A voz do "moço" nervoso se fez ouvir mesmo com o solo do Carlos Santana.
Olhei com toda atenção e respeito para ele, já com os fones no bolso da calça.
Faltavam apenas 2 pessoas para que eu fosse atendida e ele, já sem nenhuma 
reserva de paciência, pediu...não, não foi bem um pedido...posso dizer, sendo educada, 
que foi mais que um pedido...foi uma sugestão...ele queria que eu o deixasse passar
em minha frente.
Aceitei. Afinal, o que é um frango congelado perto de um monte de verduras e frutas?!
E, enquanto a mocinha atarefada do caixa registrava a compra do senhorzinho apressado,
eu, só querendo aliviar o clima de correria, soltei a pérola (ou bomba?!!):
Eu o deixei passar, moça! - disse eu com um sorriso para a tensa funcionária - ele vai 
pagar minhas compras  também, hahaha!! - gente!! era só uma piadinha boba!!!
Mas o pobre "Senhor Nervoso" não acompanhou bem a  minha brincadeira e logo
se dirigiu a mim como se minha cara pudesse ser alvo de um frango, que já nem tão 
congelado estava:
"Olhe, minha senhora, me respeite que eu sou um homem bem casado e sou muito sério!"
Acredita que, por um segundo, eu ainda pensei que ele também estivesse brincando?!
Mas não estava. 
E, enquanto eu procurava disfarçar o calor vermelho da vergonha no
sorriso moco num canto da boca, o nervosinho saía com o bendito frango na sacola,
ainda resmungando. 
E a moça do caixa,coitada, me dirigiu um gentil "bom dia", como se com
este gesto pudesse apagar aquela estranha cena...
Claro que não apagou, mas aliviou minha vergonha! afinal, ainda era muito cedo
para "perder" o dia! - pensei, respirando fundo, um maço de couve na mão...
Talvez eu tenha perdido uma daquelas boas chances de ficar calada.
Disse o que não devia, ouvi o que não precisava...
A chuva que começou a cair me resfriou o rosto com carinho, enquanto
Carlos Santana voltava a tocar para mim.
Entrei no ônibus, o motorista me jogou um outro "bom dia!" e eu devolvi,
com prazer!
Pensando bem, não deixou de ser engraçada a cena.
Talvez aquele fosse um dia ruim para o Senhor Nervoso.Pode ser.
Ou talvez eu tenha exagerado na "gentileza".
Nem todo mundo entende uma brincadeira.
E tem gente que não gosta de desejar bom dia.









terça-feira, março 02, 2010

Escrevendo planos...

E lá vou eu (de novo) tentar outro concurso!
Desta vez é do Ministério da Cultura e o que mais me animou a
tentar este foi a prova de redação.
Muitos não gostam, mas eis aí uma coisa boa que ganhei do
UNIverso ao chegar neste mundo doido: eu amo escrever!
Como já registrei aqui, cuido exclusivamente de minha casa e família,
inclusive do meu netinho Miguel.
Faço pequenos trabalhos de costura, sou consultora de vendas, mas
gostaria de SAIR de casa para trabalhar, ter minha TOTAL indepen-
dência financeira! afinal, quem não quer?
E antes agora do que nunca, né?
Mas voltando ao que disse sobre gostar de escrever...
eu me lembro que desde bem jovem, o que me dava mais prazer de todos os
deveres de escola, era quando tinha uma redação.
Incrível como isto sempre me empolgou!
Houve um tempo no colégio, aos 13, 14 anos, eu comecei a imaginar histórias.
Eram simples, de pouca riqueza de conteúdo, mas aqueles "romances" para mim 
eram uma espécie de fuga, terapia, sei lá! eu me sentia tão feliz quando terminava
de escrever e podia mostrar para minhas amigas! e elas pareciam gostar!
Aí eu me enchia de coragem e idéias, e logo começava outra história.
Minha vida de adolescente era casa e escola e os meus sonhos eu
"contava' ali, naquelas páginas de caderno velho! eu me lembro que cheguei
a escrever uma história que envolvia minhas melhores amigas e nossos candidatos
a namorados, sabe? aquela coisa quase infantil de se apaixonar por alguém e
 nem ter coragem de chegar perto da pessoa, de olhar de longe e já sentir bater 
forte o coração! eu escrevi a história daquilo que eu sonhava ser! eu escrevia
meus sonhos...
Então, com o passar do tempo, comecei a me apaixonar por leitura e teatro
e, com o acontecer da vida, isto me deu mais conteúdo.
Passei a escrever pequenos poemas, eu amo ler poesia, nossa!! gosto de
ler em voz alta, parece que as palavras saem do livro e, através da minha voz,
entram direto em meu coração...
E aí, como uma mágica maravilhosa da vida minha mente  que parece gritar,
manda-me palavras para as mãos...e eu escrevo...e quando termino, é como
um orgasmo...ah, eu gosto, sim e muito, de escrever!
Pessoa, Lispector, Meireles, Drummond e todos os poetas que amo....eles que
me perdoem a blasfêmia...mas eu gosto de fazer poesia...
Penso que, se conseguir passar em um concurso, terei recursos para viajar,
adquirir mais conteúdos, aprender novas coisas, ver novas culturas e assim,
poder escrever melhor, com mais profundidade, mais riqueza de palavras...
Acho que a PALAVRA é algo muito importante para mim.
Eu gosto de conversar, de ouvir e ler as pessoas, gosto mesmo!
Acho muito bom quando converso com estranhos na rua, nas filas, nos pontos
de ônibus...as pessoas SEMPRE têm algo a nos dizer...e eu não sou diferente...
e sinto aqui dentro do meu coração, bobo de tão sonhador, que eu ainda tenho
muita, muita coisa prá contar...
Então, que venham as palavras!!!
E, se for desta vez a vontade de DEUS e do UNIverso...quem sabe eu não consiga
passar neste concurso?
Eu tenho mesmo é muito o que estudar...sorte prá mim!