Mas ele não parecia se preocupar com isto, distraído, lendo algo em seu celular,uma mensagem, talvez!e isto me dava uma certa vantagem, eu podia observar "de perto" com mais calma aquela figura interessante...
Ei, eu não sou de ficar paquerando ninguém pela rua, não!pelo contrário, às vezes eu penso que poderia até ser um pouco mais ousada. Afinal, não devo nada a ninguém...mas e a bendita coragem?! sumiu por trás da minha cara vermelha feito fogo, quando num movimento brusco,ele guardou o celular no bolso, olhando na minha direção.Caramba! ele até que era bonitão! os cabelos crespos mas bem cuidados tinham mechas brancas misturadas àquele castanho que combinavam com a cor dos olhos...que eu já não via, tentando encontrar "algo" na bolsa, para não me trair! onde foi parar meu MP3, droga!!...onde eu deixei?
Onde eu deixei? esta pergunta entrou no meu cérebro, fazendo todo o meu trajeto desde antes de sair de casa: troquei a roupa, calcei a sandália, os cabelos eu arrumei diante do espelho, escovei os dentes, desliguei a máquina...nããão!!! a máquina!!!
"Tem horas? tentei ver no meu celular, mas a bateria descarregou"...responde, idiota!!!esquece a máquina de lavar!!!era só o que eu conseguia pensar, enquanto olhava para o relógio no meu pulso, desajeitada ainda com a mão dentro da bolsa, a cara de palerma...nem ouvi minha voz dizer 9 horas...
E ele dizendo que estava atrasado, que não morava em Brasília e precisava chegar a um shopping naquele horário, encontrar sei lá quem...mas e a máquina?
Minha antiga máquina de lavar era temperamental...lavava muito bem, mas na hora de torcer a roupa...o mundo parecia em guerra,certa vez minha vizinha reclamou do barulho, pois eu a havia ligado depois das 22 horas...e às vezes, ela resolvia encher sem parar, até a água transbordar transatlanticamente a minha cozinha, descendo para o terceiro andar...
Ele nem podia sequer imaginar o que rolava no meu cérebro louco, enquanto tentava descobrir que ônibus chegaria mais rápido no lugar onde ele precisava estar.
Era o mesmo ônibus que eu pegaria...aliás,se não fosse a maldita lavadora,poderíamos descer no mesmo ponto, a companhia poderia ser até interessante...ele diria de onde era, com sorte não seria casado e me convidaria para uma cervejinha....e eu o levaria a um bar onde pudéssemos conversar, nos conhecer.Falei em amizade...
Meu Deus!! eu devo ter ficado maluca de vez!! grandes chances de gente nova em minha vida e eu só conseguia me "ver" com as pernas da calça arregaçadas até o joelho, rodo na mão, a água inundando a portaria do prédio, os vizinhos querendo me esganar!! ah, não!!!!
- É este?- perguntava ele, o ônibus já estava ali, parado, sem que eu percebesse sua chegada.
Com a cara roxa de vergonha e acho até que gaguejei, respondi que sim...ele me agradeceu com um largo sorriso, entrou no ônibus e se foi...ainda me acenou lá de dentro!!!!!
Inúmeras qualidades eu atribuía a mim mesma enquanto fazia o caminho de volta para minha casa,sentindo uma pontadinha de frustração, misturada à ansiedade de chegar logo e conferir os possíveis estragos.
E enquanto pendurava a roupa lavada no varal, porque a máquina desta vez funcionou divina e debochadamente, eu continuava a me autodenominar de vários nomes...
E a boa notícia?...comprei uma lavadora nova...