quarta-feira, agosto 04, 2010

De quando minha mãe se foi...

O elevador parecia mais lento que nunca e meu medo, ampliado pela circunstância, trazia à minha mente todo tipo de pensamento sombrio, enquanto olhava a maca vazia à minha frente.Como aquele enfermeiro ainda conseguia trazer no rosto aquele sorriso? pensei, enquanto a campainha acusava o andar onde eu deveria chegar.Confusa, então, já não conseguia captar em mim qualquer emoção, era como se meu "eu" tivesse sido desprogramado, sei lá, fui andando ali feito robô, perguntando e ouvindo respostas mecânicas, sabonete, avental, uma sala com camas e gente sofrida... e lá estava ela. Viajei 15 horas para vê-la assim...o olhar sem brilho, pequenina ali entre os lençóis azuis, ela parecia ainda menor do que era antes, tão frágil, aquela figura sentada ao pé da cama, meias nos pés, tive medo de ao abraçá-la, quebrar, como se de louça  fosse...E entre o tilintar de instrumentos, sussurros e breves sorrisos, as pessoas iam e vinham, medindo pressão, controlando soros, descartando seringas, eu conversava com ela, afagando-lhe a alma através de seus ralos cabelos brancos...seu sorriso mostrou alegria ao me ver.
Cenas de minha infância iam e vinham em minha memória, eu não sabia ainda o que dizer a ela e assim a abracei, com medo de invadir, ofender tanta fragilidade naquele corpo que era agora o oposto daquele que morava em minhas lembranças. No ir e vir de Natais e aniversários, num túnel do tempo de nossas vidas tocou-me a imagem de minha mãe abraçando seus netos, minha mãe sempre presente em minha história... mesmo quando era dura, nunca deixou de ser mãe.Vi naquele exato e justo momento o quanto a amava, o quanto ela me amou também.
Visita de hospital, eu sabia...soube muito antes...era a última vez que nos falaríamos neste plano!
Aquele frágil e doce olhar dizia tudo, porque as palavras não cabiam, não bastavam.
Na cabeceira da cama, dois anjos calmamente esperavam  a hora certa.
Quando me despedi vi o "adeus" nos olhos dela e no elevador aquela imagem estava viva e forte, como ainda hoje viva e forte  está...no meu mundo e no meu coração.
Hoje penso que minha mãe apenas me esperava chegar ali para partir. Não posso contar ao certo o quanto ela me é ainda presente e importante, nem o quanto é impossível descrever a saudade...a doce saudade de ser filha...



2 comentários:

  1. Algo de muito saudosismo invadiu sua foto de fundo
    Adorei essa sala,mobilias,os quadros...
    Ficou muito lindo e simples como sei que gosta!!!
    Há ...lágrimas...deixei rolar...
    Foi como se eu visse o filme que você narrou, imaginando todo seu percurso com sua mãe...
    Foi um momento de muita tristeza pela sua dor na hora...misturada com a saudade...
    Muitos são os momentos em nossas vidas que não se apagam e permanecem ricos até nos detalhes...
    Independente do momento...alegrias, tristezas,
    dores,saudades,nunca são esquecidos pois sempre haverá uma história para se contar.
    Aqui você Olívia usou a saudade com a dor e eu me compartilho em lágrimas com você!!!
    Que nossas lembranças sejam sempre de boas recordações mas nunca esqueçamos os piores momentos de nossa vida !!!
    Boa noite
    Deus te acompanhe sempre e toda sua família!!!
    Um beijo do amigo
    Carlos Antônio Aglio Henriques

    ResponderExcluir
  2. MINHA AMIGA TÃO QUERIDA!
    COMO VC TEM O TALENTO DE DESCREVER TÃO PERFEITAMENTE TODAS AS EMOÇOES. É IMPACTANTE ATÉ!
    DOEU DEMAIS ESSA CENA!!!
    TENHO PAVOR DE QUANDO CHEGAR MINHA VEZ...
    PUS-ME EM SEU LUGAR E SENTI SUAS DORES. QUE COISA MAIS DOÍDA!!!!
    SEM COMENTÁRIOS!!!

    ResponderExcluir