quinta-feira, outubro 20, 2011

Dona Doida


Enquanto caminhava hoje bem cedo, Doralice se deliciando em assustar os
pardais, lembrei-me de um banho de chuva que tomei no parque .
A alegria dos patos, a roupa molhada, uma louca e liberta vontade de correr,
naquele exato instante eu "senti" a felicidade, essa Dona Doida que mora
bem dentro de cada um de nós e que um "sei lá o que" da vida nos confunde,
dando a ela uma distância tão grande e tão fora de nosso alcance...
Outra ilusão...porque ser feliz não é um plano, um acordo, uma meta...
Ser feliz é tão simples...tão simples, que nós, nesse "se perder" do dia
a dia, entre anúncios mentirosos, mulheres magérrimas e homens malhados,
com seus carrões, celulares e perfumes quase mágicos, emaranhados na
teia das ilusões, acabamos por acreditar que a  "Dona Doida" mora num
castelo às vezes tão inatingível!
Hoje bem cedo a Dona Doida que mora dentro de mim pediu para sair,
assim como faço com a Doralice todos os dias...me fazendo lembrar
da beleza limpa que é um simples banho de chuva no parque...
Ahhhhhhhh, essa tal Felicidade!!!!!
nunca nos abandona...
Nós que ficamos cegos...surdos...iludidos...debaixo de guarda-chuvas
coloridos...

Olívia Ventura

quinta-feira, setembro 08, 2011

A um Anjo chamado Sidony

 PARA MINHA LORA:


Sabe, eu já vi muitas coisas, bonitas, feias...
Já sorri alegrias, já chorei tristezas.
Um dia meus pais se foram...
Um dia, de repente, eu virei mãe...
Emoções inimagináveis para mim ,até então,
tomaram meu mundo, minha vida.....
hahahahaha!, eu me julgava experiente!!
eu me achava adulta...
mundo doido...vida lindamente maluca!
Foi preciso muito amor, muita dor!
Muita paciência, muito esperar para ver...
Fazer teatro? decorar texto? escrever????
NADA. Mas NADA mesmo se compara a esta escola.
A de se tornar mulher...com filhos...
MAS VOCÊ SABE DE TUDO ISSO!
Você SABE LER E VER tudo o que o que digo e sinto...
NUNCA me esqueço de seu olhar.
Sempre me lembro de nossos sonhos.
De nossas "lânguidas" manhãs, esparramadas
nos gramados da Escola...falando sonhos...
sonhando luas e estrelas...seus passos de dança,
ah,minha Lora!!!!!!
Eu já vivi muitas coisas, verdade...nós vivemos!!!!!
Já sorri e já chorei de tudo e por tudo, de nada e por nada...
E ainda viverei muitas outras sensações, eu sei...
Mas NADA se compara ao prazer, ao AMOR real  e lindo
que sinto por você...e do AMOR que sinto chegar de seu coração,
de onde estiver!!
Muito,mas muito obrigada, minha ALMA GÊMEA!
E obrigada a DEUS, ao UNIverso por me dar você de presente!!!
Te amo...SEMPRE...e PARA SEMPRE...

FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!!!!!!TE AMO!!!!!!!

dia 09/09/2011 *** aniversário de uma GRANDE amiga: Sidony
Esta é minha humilde homenagem a quem tanto amor já me deu...



sexta-feira, agosto 20, 2010

Alpargatas azuis...

Minha professora da primeira série me escolheu para falar uma poesia no dia do soldado na frente de toda a escola!...Eu tinha então 7 anos de idade, muita timidez, alguns medos e apenas 1 par de sapatos, que minha mãe guardava para as "ocasiões especiais". E esta com certeza era para mim uma ocasião especialíssima! 
Faltavam alguns dias para a apresentação e minha ansiedade quase não me deixava dormir pensando na poesia e claro, nos sapatos que minha mãe insistia em me entregar apenas no dia do evento, "você já viu os sapatos, não precisa ficar olhando sempre, acaba deixando por aí e estragando!", como assim?!...se eram os únicos que eu tinha!!! perder???estragar por que??? eu me perguntava sob o olhar estranho que meu pai lançou para mim e minha mãe.
Meu pai era mecânico de automóveis, trabalhava duro para sustentar a família. Eu e minha irmã ganhávamos muitas roupas de minhas primas mais velhas, mas sapatos, que sorte! elas calçavam números diferentes dos meus e não era possível reformá-los como as roupas. Por conta disso, eu tinha duas sandalinhas para ir à escola e este par de sapatos, que eu  havia  visto no dia de Natal, presente de Papai Noel, quando fomos à missa do galo, uma missa que sempre me dava sono, mas não ousava dormir, medo dos beliscões de minha mãe...ah, e também os calcei na minha primeira comunhão, outro episódio que ainda terá um destaque por aqui...
Lembro-me da alegria e do orgulho que sentia na véspera da apresentação, quando falei a poesia inteira decorada para a professora e recebi um elogio acompanhado da recomendação de ir bem vestida, pois uma autoridade não sei de onde estaria lá para assistir, nossa!!!!quanta responsabilidade!
O banho que tomei naquele dia não foi mais demorado porque me lembrei que finalmente eu reveria meu presente de Natal, aquela preciosidade que em poucos minutos estariam vestindo meus pés ansiosos por algo diferente de um par de sandálias.
Calcei as meias com pressa e quando minha mãe me deu a caixa, meu coração parecia até bater mais forte, eu me sentia uma princesa sendo preparada para sua coroação, sei lá!!
Ao tocar naqueles sapatinhos brancos, uma sensação boa me invadiu, acho que meu rosto queimava de felicidade...felicidade esta que começou a diminuir na primeira tentativa de encaixar aquele objeto no meu pé..."seu pé cresceu rápido! e o couro do sapato ainda não cedeu!", exclamou minha mãe tentando forçar a entrada do sapatinho naquele que já não podia ser chamado de "meu pezinho".Andei então pela casa inteira com aqueles calçados apertadíssimos"para acostumar" e minha mãe dizendo que eu iria com eles de qualquer maneira, os dedos parecendo querer explodir ali dentro, o relógio dizendo a hora de ir, minha mãe já meio furiosa com as minhas lágrimas. Por um segundo ela sumiu e apareceu novamente  com uma tesoura grande que usava em suas costuras.Desajeitadamente, sentou-me na beira da mesa grande que ficava na cozinha e com uma expressão decidida que nem meu pai contestaria, tomou de assalto o par de vilões e sem piedade, cortou-lhes as duas pontas...."pronto!" dizia ela, enquanto me enfiava de novo aquele estranho par de calçados que agora deixavam à mostra meus dedos cobertos pelas meias, os mesmos sapatos brancos que até então eram guardados a sete chaves, para que nada de ruim pudesse atingí-los...
Claro que reclamei na hora! a decepção, meus medos e a minha timidez gritavam por mim, eu não queria ir à escola com aqueles sapatos cortados, não naquele dia!! ninguém ouviria o que eu tinha a dizer, aquela poesia tão carinhosamente decorada, mas olhariam sim para os meus pés!!eles seriam a atração!!..." é isto ou o chinelo!!!" vociferou nervosa minha mãe e eu sabia que ela estava também decepcionada por proteger tanto uma coisa que acabaria assim...sem uso....
A hora era de ir para a escola, não de lamentar...eu tinha um compromisso, apesar de já estar até pensando em ter uma febre, uma dor de barriga, ou sei lá o que para não ter que encarar a tal inspetora me olhando com meio sapato.
Caminhei para o portão da casa sentindo lágrimas molharem meu rosto, em silêncio! não adiantava reclamar ou argumentar, era o sapato assim ou a minha velha sandália.
Meu pai fechou o portão por trás de mim , tomou- me a mão, o macacão sujo de graxa , levando-me em silêncio, como se respeitando minha desventura...aquele caminhar para a escola nunca foi tão doloroso.Os pés que, mesmo com meios sapatos, ainda doíam e a minha tristeza por toda aquela esquisitice....
Espantei-me quando meu pai saindo do caminho que levava à escola, seguiu me levando até uma loja e me comprou um par de alpargatas fiado, azuis da cor da saia do meu uniforme e novinhas!!!! meu Deus, como eram lindas!!!! e como eu me senti feliz, quase voava de tanta alegria!!!...meu pai era sim um herói!!!
A festa foi linda, eu e meu belo par de alpargatas novas fizemos bonito na frente de todos e na volta pra casa eu decidi que não iria mais à aula sem elas...
Minha mãe fez um discurso contra, meu pai coitado foi xingado durante dias, ela era fogo quando se sentia contrariada, mas sei que no fundo gostou da atitude do velho, pois acabou permitindo que eu mesma cuidasse daquele lindo par de alpargatas azuis, mesmo recomendando por dias que eu tomasse cuidado, pois ainda não estavam pagas.Ahhhhh!! e eu cuidei....sabe que até hoje eu amo usar alpargatas? inclusive tenho um par que uso sempre para sair por aí, quando quero andar relaxada...lembrando o quanto é maravilhoso ser simples...

sexta-feira, agosto 06, 2010

Vovó e o caminhãozinho...

Minhas tardes (de segunda a sexta feira) são preenchidas com a presença do meu neto Miguel, que com certeza, independente de toda a mão de obra que isto me acarreta, tem um balanço positivo: estar com ele  é um contínuo exercício de  paciência, além de manter sempre viva a chama do "ser criança", o que acho imprescindível tanto para mim quanto para ele, com quem passo do "imitar coelho", até o "virar a bruxa doida do centro oeste", reestabelecendo em mim uma sanidade colorida de criancices.E ainda de quebra mato a saudade de quando fazia minhas caras e bocas no teatro.Noooossa!!é muito bom!
Embora às vezes isto me faça pagar alguns "miquinhos".Como ,por exemplo, no dia em que fomos com a minha filha ao médico.
A sala de espera da gastroenterologista estava lotada quando chegamos eu, Miguel ao colo para não perder tempo e Ananda que (ahhhhh, adolescência!!) se mantinha de cara amarrada por ter sido levada a estar ali em consequência da suposta gastrite que a atingira.Cedi então o último assento que restava, ela sentia dores e Miguel não ficaria mesmo sentado, já que tantas coisas e pessoas ali o convidavam a uma detalhada "inspeção".
Vovó! que é isso?...vovó! ali tem torneira! vovó, olha o menino com dodói!!vem, vovó, vem ver o caminhãozinho!!!!
Neste momento ele já estava em frente a uma enorme janela no quinto andar, ainda bem que com grades!!... e seu olhar parecia extasiado com vários caminhões de terra que trabalhavam numa construção ao lado do hospital. Sem perceber, sentei-me no chão ao lado dele e comecei uma viagem que, iniciada com barulhos de caminhão feitos com a boca, foi até às mais esquisitas expressões corporais e faciais que minha "flexibilidade" podia então exibir ...até que uma voz me tirou do "transe", era Ananda pedindo um documento que estava em minha bolsa. Só aí percebi que as pessoas nos olhavam, estávamos no chão sentados, avó e neto!!...e sob o olhar de "ai, que mico!" de minha adolescente filha! Apenas ao me levantar  pude perceber que a porta atrás de nós dava para a psiquiatria...e aí foi impossível segurar a risada.Risada esta que Miguel , com certeza imaginando ser tudo ainda parte da brincadeira, acompanhou com uma gargalhada que chegou a ser emocionante.
Na altura em que estou da minha vida, vez em quando me pego preocupada com o que é ridículo ou o que pode ser loucura. Por outro lado, em situações como esta, penso que ridículo e insano seria se eu não tivesse embarcado neste trem...ou neste caminhãozinho...